Da impotência à disfunção erétil: destinos da medicalização da sexualidade
From impotence to erectile dysfunction: a journey through the medicalization of sexuality
Physis (Rio J.); 19 (3), 2009
Publication year: 2009
Este artigo retrata a história recente da transformação do conceito da impotência, como desordem psicossexual, em disfunção erétil, considerada como uma doença de etiologia principalmente orgânica. Demonstra sucessivamente como a impotência masculina constituiu uma abrangência global de todo o ciclo da resposta sexual, e ainda, uma violação da identidade e da autoimagem; como o relacionamento entre casais se transformou progressivamente em dificuldade e como a falta de um órgão claramente circunscrito pode ser o objeto de um "simples" tratamento medicamentoso. Este processo foi analisado a partir de modelo sequencial da medicalização (Conrad), que permite compreender a intervenção dos diferentes atores envolvidos (cientistas, médicos, industriais, políticos, empresários). Compreende-se, assim, como as descobertas científicas são selecionadas e desenvolvidas de acordo com seu potencial industrial e são aplicadas às pesquisas clínicas; como entidades clínicas são reconceitualizadas e medidas através de investigações epidemiológicas na população em geral e como são criados os ensaios clínicos que levam à criação de um medicamento. Em seguida, observam-se como os atores da saúde pública e os políticos intervêm para dar legitimidade ao novo problema criado. Por fim, avalia-se a possibilidade da desmedicalização de problemas com o uso não-médico do medicamento, no contexto do desenvolvimento da autoprescrição na Internet.
This paper delineates the history of the recent transformation of the concept of impotence - from a psycho-social disorder to a disease with an organic etiology. Then it shows how male impotency, which globally affected the entire sexual response cycle, even acted upon self-image and the representation of the couple - progressively became a disorder as the failure of a well controlled organ liable to undergo a single medicinal treatment. This process is analyzed from the sequential model of medicalization, making the interference of the several actors implied (scientists, practitioners, industrialists, politicians, businessmen) easier to understand. This sheds light on the way scientific discoveries are selected and developed according to their industrial potential, then applied to clinical research; how clinical entities are reconceptualized and measured through epidemiologic studies among the general population, how clinical trials are conducted and how they lead to the creation and validation of a drug in public health settings. Next, we observe how public health actors and politicians are involved with giving this new problem legitimacy. Eventually, we evaluate the germs of de-medicalization, caused by the non-medical uses of the drug within the context of self-prescription which is currently developed on the Internet.