Discriminação racial e vulnerabilidade às dst/aids: um estudo com adolescentes negras
Racial discrimination and vulnerability to std/aids: a study of black teenage girls in Rio de Janeiro

Physis (Rio J.); 23 (1), 2013
Publication year: 2013

O estudo teve como objetivo verificar a discriminação racial vivenciada por adolescentes negras moradoras em favelas da cidade do Rio de Janeiro e sua possível influência no processo de vulnerabilização ao HIV/Aids. Utilizou-se uma combinação de métodos, quantitativo e qualitativo. Este artigo se refere a um recorte da etapa qualitativa desenvolvida por meio de dez grupos focais com a participação de 139 adolescentes. Seguiu-se um roteiro para o debate contendo dois grupos temáticos: sexualidade/DST/Aids/gênero e raça/cor/discriminação. Os relatos foram gravados e o material transcrito organizado conforme os temas tratados e analisados criticamente por equipe multidisciplinar. Os dados coletados foram classificados em categorias específicas articuladas aos pressupostos teóricos, a fim de responder às questões formuladas, tendo por base os objetivos da pesquisa. Os resultados revelaram que as adolescentes negras sofrem discriminação racial no seu cotidiano, que é manifestada nas expressões de suas falas, referindo-se ao aspecto físico, ao caráter e à capacidade intelectual. Tais condutas discriminatórias dificultam o acesso aos serviços de saúde e induzem um atendimento de baixa qualidade. Concluiu-se que a discriminação racial vivida por estas adolescentes negras, na cidade do Rio de Janeiro, influencia o desenvolvimento da autoestima e contribui para a construção de uma identidade negativa que, aliada ao racismo e à pobreza, se configura num contexto de vulnerabilidade às DST/Aids. Sugere-se que estes dados sejam levados em consideração na elaboração de políticas públicas para que ofereçam atenção diferenciada àqueles que estão inseridos de forma desigual na sociedade.
This study aimed to verify the racial discrimination experienced by black teenage girls living in shantytowns in Rio de Janeiro city and its possible influence on their vulnerability to HIV/AIDS. We used a combination of quantitative and qualitative methods, based on data collected from focus groups composed of 139 teenage girls.

Group discussions followed a script of subjects involving two thematic areas:

sexuality/STDs/AIDS/gender and race/color/discrimination. The discussions were recorded and the transcribed texts were critically analyzed by a multidisciplinary team. The data collected were classified in specific categories associated with the theoretical assumptions, to respond to the research questions. The results reveal that the girls suffer racial discrimination in their daily lives, manifested in disparaging remarks and attitudes toward their way of speaking, physical appearance, character and intellectual capacity. This discriminatory behavior hinders their access to health services and also reduces the quality of the services received. The conclusion is that the racial discrimination experienced by these black teenage girls influences their development of self-esteem and contributes to the construction of a negative identity, which allied with poverty creates a context of vulnerability to DSTs/AIDS. We suggest these findings be taken into consideration in the formulation of public policies to offer better health care services to those who suffer from inequality and discrimination.
VIH

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