Uma cura controversa: a promessa biomédica para a hanseníase em Portugal e no Brasil
A controversial cure: the biomedical promise for hanseniasis in Portugal and Brazil

Physis (Rio J.); 26 (1), 2016
Publication year: 2016

Este artigo procura responder à pergunta, nascida na empiria do trabalho de campo: por que algumas pessoas portadoras de hanseníase e tratadas com a poliquimioterapia (PQT) se sentem curadas e outras não? Com base numa etnografia multissituada nas escalas transnacional (programa global para a hanseníase da Organização Mundial da Saúde), nacional (paisagens morais e paradigmas biopolíticos para a hanseníase em Portugal e Brasil) e local (prática clínica em contexto hospitalar e experiência incorporada das pessoas portadoras nos dois países), analisa como a incerteza documentada na clínica da hanseníase e a clivagem experienciada por algumas pessoas, entre a cura bacteriológica e o sentimento de se sentir sanado, abre uma controvérsia em torno dos principais postulados que sustentam o emprego da PQT como uma entidade autônoma do contexto e difratam a fronteira entre o normal e o patológico em que se baseia o enquadramento contemporâneo da hanseníase e as respostas institucionais à mesma. Finalmente, conclui pela necessidade de incluir uma escolha incorporada na atual política ontológica para a hanseníase que amplie a própria nosologia e refunde um novo paradigma de cuidado, de tipo participativo.

This paper aims to answer the following question that arouse during fieldwork:

why some people with hanseniasis and treated with multidrug therapy (MDT) feel healed and others don't? From a multi-sited ethnography in the transnational (global program for hanseniasis from the World Health Organization), national (Portuguese and Brazilian moral landscapes and biopolitical paradigms), local (clinical practice and incorporated experience of people with hanseniasis in both countries) scales, it examines how the uncertainty documented in the clinic and the gap experienced by some people between the bacteriological cure and the feeling of being healed, opens for a controversy on the main postulates that sustain the use of MDT as an autonomous entity and diffract the contemporaneous framing of hanseniasis and the institutional responses to it. Finally, it concludes on the need for including an incorporated choice that might widen hanseniasis' ontological politics and rebuild a new participatory paradigm of care.

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