Proposta para uma etnografia da psicanálise
Approach for to ethnography of the psychoanalysis
Approche pour une éthnographie de la psycanalyse

Physis (Rio J.); 6 (1/2), 1996
Publication year: 1996

O objetivo deste artigo é demonstrar que a compreensão do processo de difusão da psicanálise implica fugir de explicações que a definem a priori como possuidora de um caráter intrinsecamente teológico e religioso. A abordagem etnográfica que proponho abre a possibilidade de identificar a constituição de seu campo disciplinar e de sua legitimidade em face de outros saberes voltados para a compreensão e tratamento das doenças mentais e revela que esse processo, em determinadas circunstâncias, pode assumir um caráter religioso explícito e, em outros, um caráter científico, no sentido atribuído por Bruno Latour aos "fatos científicos". Essa abordagem permite demonstrar que a estratégia de espraiamento da psicanálise é em grande parte responsável pela sua ampla difusão em nossa sociedade e que para isto utiliza os mesmos recursos aos quais recorrem as disciplinas ditas científicas "duras".
The objective of this article is to demonstrate that a proper understanding of the process of constitution of psychoanalysis requires avoiding explanations that define it a priori as having an intrinsic theoIogicaI, religious character. Thus, it suggest an ethnographic approach that is abIe to identify the constitution of the disciplinary fieId of psychoanalysis and of its Iegitimacy vis-à-vis other knowIedges directed toward the understanding and treatment of mental illness, and shows that in some circunstances psychoanalysis can assume an explicit religious character; in others, a scientific character in the sense Bruno Latour attributes to "scientific facts". Such approach of psychoanalysis is largely responsibIe for its wide spread-up in our society, for wich it has utilized the same resources used by "hard sciences" disci­plines.
Dans cet article nous vouIons démontrer que la compréhension du processus de diffusion de la psychanalyse doit se faire sans recours a des explications qui la placent a priori comme aiant un caractere intrinsequement théoIogique ou religieux. L'approche ethnographique proposée ouvre la possibilité d'identifier le processus de constitution de son champ disciplinaire et de sa légitimité par rapport a d'autres sources de pouvoir également dédiés à la compréhension et traitement des maladies mentales. Ce processus révéle que la psychanalyse, dans des contextes espécifiques, peut assumer un caractere religieux, ou par contre, un caractere scientifique dans le sens atribbué par Bruno Latour aux "faits scientifiques". Cette approche rend possible démontrer que la stratégie de déplacement de la psychanalyse est, de façon considerable, responsable de sa large diffusion dans notre société et que pour cela utilise les mêmes recours employés par les disciplines dites "dures".

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