A educação popular em saúde como base da preceptoria na formação técnica de agentes comunitários de saúde
Popular health education as the basis of preceptorship in community health agents' technical training

Rev. APS; 18 (4), 2015
Publication year: 2015

A Educação Popular em Saúde (EPS) é fruto da aproximação dos trabalhadores da saúde e da educação na luta pela democratização em nosso país. No presente texto, a entendemos como perspectiva teórica e prática orientada para o trabalho social emancipatório e prática educativa, direcionados à promoção da autonomia das pessoas e à superação das desigualdades sociais. Imbuída da crítica ao autoritarismo da ciência e voltada para a escuta e valorização do saber popular, compreendemos que a EPS é importante instrumento teórico-prático para a constru- ção de um Sistema Único de Saúde (SUS) democrático. O presente artigo tem por objetivo apresentar a sistematização do processo de construção da EPS como eixo transversal do curso técnico de Agente Comunitário de Saúde (CTACS), a partir da preceptoria, experiência datada dos anos de 2013 e 2014. Foram utilizados como fonte, a experiência dos preceptores, docentes e coordenador de curso, registros nos diários de classe, documentos de planejamento das unidades curriculares, atas das reuni- ões de planejamento e dos conselhos de classe, termos de referência e parte da produção dos próprios alunos. Buscou-se identificar duas dimensões: o processo educativo dos alunos, considerando não só a apropriação dos saberes técnicos, mas fundamentalmente, a integralidade de sua formação; e os efeitos pedagógicos percebidos no desenrolar do CTACS. O preceptor teve como atribuições a integração e articulação dos conteúdos apresentados aos ACS, durante os módulos teóricos do curso, a partir das “práticas profissionais”, que eram encontros coordenados pelos preceptores e relacionados a temas dos diferentes eixos do curso ou apresentados pelos ACS como necessidades de aprendizagem. As “práticas profissionais” foram elaboradas em conjunto com a coordenação e docentes do CTACS e possibilitaram intervenções e debates em relação a temas caros, como gênero e sexualidade, movimentos sociais, mídia, violência, cotidiano de trabalho, dentre outros. Outra linha de atuação da preceptoria foi a construção de diagnósticos comunitários e a orientação dos Trabalhos de Conclusão do Curso. A convivência cotidiana e a confiança estabelecida entre preceptores e educandos do curso permitiram desenvolver uma série de discussões políticas que contribuíram para a politização dos Agentes em relação às questões do seu próprio trabalho enquanto ACS, como também em relação às questões do contexto sociopolítico mais geral, compreendendo a saúde como parte desse contexto. Nesse processo, vimos também como foi fundamental a discussão sobre o papel do ACS, incentivando sua atuação como educador popular, o que se deu não apenas por meio de discursos sobre educação popular, mas através de prática educativa do curso potencializada pelos preceptores. Acreditamos que isso resultou em um aumento da autoestima dos Agentes, permeado pela valorização de seu trabalho, o que passou pela compreensão da importância destes para um SUS e uma sociedade mais democráticos.
Popular Health Education (EPS) is the result of closer ties between health and education workers in the struggle for democratization of our country. In this paper we understand it as a theoretical and practical perspective oriented toward emancipatory social work and educational practice, aimed at promoting empowerment of people and overcoming social inequalities. Imbued with a criticism of science’s authoritarianism and focused on listening to and placing value on popular knowledge, we understand that EPS is an important theoretical-practical tool for building a democratic Unified Health System (SUS). The historical constitution of the work of the Community Health Agent (ACS) on a popular education basis, and its public institutionalization via the biomedical model, point to tensions and disputes as to the profile of these workers and their role for both the National Policy of Primary Care, as well as in relation to their place in relation to the families it serves, to the service, and to the State. This article aims to present the systemization of the Popular Health Education construction process as a transverse axis of the Community Health Agent Technical Course (CTACS), based on mentoring experience dating from the years 2013 and 2014. Beside the experience of tutors, teachers, and course coordinators, the following were used as sources for this paper: daily class records, course planning documents, minutes of planning meetings and teacher conferences, terms of reference and of the students' own production.

The intent was to identify two dimensions:

the process of educating students, considering not only the appropriation of technical knowledge, but fundamentally, the completeness of their training; and the educational effects noted during the CTACS course. The tutor's assignments were integration and coordination of the content presented to the ACS during the theoretical course modules, based on "professional practices", which were meetings coordinated by the tutors and related to themes of the different axes of the course or presented by the ACS as learning needs. The "professional practices" were prepared in conjunction with the coordinators and teachers of the CTACS, and enabled interventions and debates regarding relevant themes, like gender and sexuality, social movements, media, violence, daily work routine, among others. Another line of action of the tutors was to build community diagnosis and guidance for Term Papers/Projects. The daily contact and the trust established between tutors and students made it possible to develop a series of political discussions that contributed to the politicization of Community Health Agents on the issues of their own work as ACS, as well as on the issues of overall social-political context, including health as part of that context. In the process, it was also seen how fundamental was the discussion on the role of the ACS, encouraging actions as a popular educator, which worked not only through discourse on popular education, but through educational practice of the course empowered by the tutors. We believe that this resulted in an increase in self-esteem of the agents, permeated by the appreciation of their work, which took place through the understanding of its importance for the SUS and a more democratic society.

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