Rev. bras. ter. intensiva; 10 (1), 1998
Publication year: 1998
O objetivo desta pesquisa foi responder à seguinte questão:
a nutrição enteral estéril diminui a colonização microbiana do estômago dos pacientes em ventilação mecânica? Neste estudo foram incluídos pacientes em ventilação mecânica prolongada, internados no CTI do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e com indicação suporte nutricional enteral, que não tinham usado nutrição enteral previamente ou a tinham interrompido há mais de cinco dias. Após cumprirem os critérios de inclusão, os pacientes eram distribuídos randomizadamente em dois grupos: CONTROLE e NEEL (nutrição enteral estéril, liquefeita e pronta para uso). Foi usada nutrição enteral contínua e interrompida oito horas ao dia e o alimento era administrado por bomba de infusão. Pela manhã, eram colhidas alíquotas da secreção gástrica e do alimento enteral, para cultura quantitativa. O pH da secreção gástrica também foi determinado. O protocolo terminava se ocorresse pneumonia, alta ou óbito ou intercorrência clínico-cirúrgica que impedisse o suporte nutricional enteral. Foram estudados quarenta pacientes, vinte em cada grupo. Não houve diferença entre os grupos CONTROLE e NEEL quanto ao sexo, idade, uso de antibioticoterapia, tempo de internação no CTI, tempo de ventilação mecânica, escore APACHE II, taxas de pneumonia e letalidade. Os microorganismos isolados no alimento enteral do grupo CONTROLE foram Gram-negativos (K. pneumoniae, A.calcoaceticus, Enterobacter spp, Pseudomonas spp, E. coli, Flavobacterium spp), Gram-positivos (Enterococcus spp, Streptococcus alpha hemolíticos e Streptococcus do grupo D não Enterococcus) e Leveduras. A contaminação do alimento enteral variou de zero a 10(16), com valor médio de 10(2,2) ufc/,L. A análise dos resultados mostrou diminuição da colonização (= 10(3) ufc/mL) do estômago quando o pH gástrico era igual ou menor do que 4. Observou-se influência da dieta enteral estéril, diminuindo a colonização gástrica quando o pH do estômago estava acima de 4. Esta relação deveu-se pelo pH gástrico, que, quando acima de 4, perde este efeito, resultando em menor crescimento microbiano no estômago quando do uso da dieta enteral estéril.