Manifestação do sofrimento e resistência ao adoecimento na gestão do trabalho
Manifestation of suffering and resistance to the illness process in work management
Saúde Soc; 18 (2), 2009
Publication year: 2009
O presente artigo visa a identificar e compreender as formas de resistências, a partir das manifestações do sofrimento, na gestão do trabalho. Empreendemos uma investigação numa empresa pública, do setor de serviços, numa metrópole da região Sudeste do Brasil. Recorremos a entrevistas abertas com trabalhadores, gestores e profissionais de saúde dessa empresa. Para a análise dos relatos obtidos, empregamos como metodologia a hermenêutica-dialética. Constatamos que algumas das concepções do sofrimento na literatura especializada relegam o trabalhador à posição de doente ou de vítima, negligenciando a sua capacidade de resistência e a positividade proporcionada pela manifestação do sofrimento. Os depoimentos evidenciaram a existência de resistência reativa, que se apresentava sob as formas catártica e ambivalente, e uma resistência ativa. Concluímos que as formas reativas criam condições mínimas para a permanência no emprego, são capazes de evitar o estigma de doente, entretanto, não conseguem evitar as situações favorecedoras do sofrimento. No âmbito da gestão não se reconhece a existência do processo de adoecimento no trabalho e seus dispositivos de atribuição da identidade de doente; os modelos teóricos que orientam as avaliações de serviços não contemplam os benefícios e avanços originários das diferentes formas de resistência.
The present article aims to identify and understand resistance forms based on suffering manifestations in work management. We undertook an investigation in a public company from the services sector, located in a metropolis of the Southeastern region of Brazil. We conducted open interviews with workers, managers, and health professionals from this company. For the analysis of the obtained accounts, we used dialectical hermeneutics as the methodological strategy. We found that some of the suffering conceptions in the specialized literature relegate the worker to the position of victim or sick person, neglecting his capacity for resistance and the positiveness deriving from the suffering manifestation. The accounts revealed the existence of reactive resistance, which emerged through cathartic and ambivalent forms, and of active resistance. We concluded that the reactive forms create minimum conditions for permanence in the job, and can prevent the sick person stigma, but they are not able to prevent situations which favor suffering. In fact, in the management sphere, the existence of the illness process in the workplace is not recognized, nor are its devices of attribution of the sick person's identity. The theoretical models that guide services evaluations do not take into account the benefits and advances coming from the different forms of resistance.