Reconstruindo memórias: jovens refugiados em Portugal
Rebuilding memories: young refugees in Portugal
Saúde Soc; 18 (4), 2009
Publication year: 2009
O presente ensaio foi apresentado em setembro de 2007, no contexto do Seminário Internacional "Programa de Cooperação em Ciências Sociais para os Países da CPLP", promovido pela LIESP - Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas Sociais em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Resulta de um work in progress conducente a uma tese de doutoramento em antropologia médica. Pretende apresentar a condição dos jovens refugiados e requerentes de asilo em Portugal, em particular na vertente da saúde mental. O trabalho de campo levado a cabo com estes jovens envolveu a escuta de muitas narrativas de sofrimento provocado pela sua experiência de vida nos contextos originais de guerra, com testemunhos de violência e tortura, e também as dificuldades sentidas no longo percurso de viagem de fuga e posterior inserção em Portugal. O isolamento, as barreiras linguísticas, a ausência de redes sociais e familiares de apoio e a dificuldade de encontrar, em Portugal, referentes socioculturais e simbólicos, comprometem o seu desenvolvimento enquanto jovens, levando-nos a equacionar o valor dos referentes identitários na construção do eu e até o próprio conceito de juventude.
This essay was first presented in September 2007, within the seminar "Programa de Cooperação em Ciências Sociais para os Países da CPLP", promoted by LIESP - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. It is a work in progress, leading to a PhD thesis on medical anthropology. It aims to present refugee's youth and asylum seeker's condition in Portugal, particularly in regard to mental health. The fieldwork conducted with these youth comprised active listening of their suffer narratives, provoked not only by life experiences in their original war contexts, with testimonies of violence and torture, but also the difficulties felt during the long flee journey and subsequent insertion in Portugal. Isolation, pain, mental suffering, linguistic barriers, lack of social and family networks as well as socio-cultural and symbolic references, compromise their development as youth, leading us to question the value of identity references on the construction of self and even the concept of youth.