Síndrome de resistência generalizada aos glicocorticóides
Generalized resistance syndrome to the glucocorticoids
Arq. bras. endocrinol. metab; 42 (5), 1998
Publication year: 1998
O gene humano do receptor de glicocorticóide (hRG) apresenta duas isoformas, a clássica alpha e a beta, produzidas por um "splicing" alternativo de um único gene, no cromossomo 5. Estas isoformas possuem os primeiros oito exons em comum, diferindo no exon 9. Esta diferença torna a isoforma beta incapaz de ligar-se aos glicocorticóides e de ativar a transcrição dos genes responsivos a eles. A isoforma beta é um inibidor dominante negativo da isoforma alpha e regula a sensibilidade endógena aos glicocorticóides. A síndrome de resistência generalizada aos glicocorticóides caracteriza-se pela hipossensibilidade de todos os tecidos do organismo ao cortisol. A retroalimentação negativa ao nível do eixo hipotálamo-hipofisário encontra-se comprometida, resultando em elevadas concentrações de ACTH, com conseqüente elevação do cortisol, hipersecreção de mineralocorticóides e andrógenos. As manifestações clínicas variam desde pacientes assintomáticos ou com queixas sutis de fadiga crônica até hipertensão e alcalose hipocalêmica, secundárias ao hipermineralocorticismo, virilização na mulher (acne, hirsutismo, oligomenorréia, oligo-anovulação e infertilidade), adrenarca precoce na criança e alterações na espermatogênese no homem, secundários ao hiperandrogenismo. Estudos funcionais dos RGs demonstram diminuição da afinidade ou do número deste receptores. Diferentes alterações moleculares como mutações puntiformes e microdeleções, com conseqüente redução da expressão da proteína do RG ou da afinidade dos RG, têm sido descritas e parecem causar resistência aos glicocorticóides. O tratamento requer a administração de doses elevadas de glicocorticóides para suprimir a hipersecreção de ACTH, diminuindo, conseqüentemente, a secreção de cortisol, mineralocorticóides e andrógenos.