Rev. abordagem gestál. (Impr.); 22 (2), 2016
Publication year: 2016
O público de língua francesa só conhece Jan Patočka de nome:
A fama o designa como aquele filósofo checo, discípulo de Husserl e de Heidegger, por muito tempo proibido de ensinar e de publicar, que se projetou na cena pública quando os signatários da carta 77 o designaram como seu porta-voz, e que morreu sob as mãos da polícia ao fim de uma série de interrogatórios violentos. Mas quem conhece o filósofo? Alguns leitores talvez saibam que ele é um dos maiores conhecedores de Comenius, um dos fundadores da filosofia da educação na época do Renascimento. Outros, sem dúvida, leram a sua obra "O mundo natural" da coleção Phaenomenologica publicada por Nijhoff e serão capazes de ler os presentes Ensaios como uma continuação inesperada dessa obra acadêmica. Mas quem sabe, com a exceção de seus numerosos e fervorosos discípulos de Praga, não importando de qual disciplina ou horizonte intelectual não universitário provenha, que Jan Patočka foi um acadêmico da estatura de Merleau-Ponty? A leitura dos Ensaios Heréticos o persuadirá sem nenhuma dúvida. Se aqui evoco a memória de Merleau-Ponty é porque estes Ensaios parecem ocupar, a partir da linhagem de Husserl e de Heidegger, o mesmo lugar que O visível e o invisível, a saber o prenúncio de uma continuidade ao mesmo tempo fiel e divergente atribuída à duas versões conhecidas da fenomenologia. Ou seja, esses Ensaios têm, como a obra póstuma de Merleau-Ponty, a beleza densa de certas figuras de Rembrandt, emergindo das trevas vibrantes do fundo do quadro. O leitor não pode se furtar à evidência da grandeza, mesmo que tenha sua leitura retardada pelo aspecto impenetrável e pela característica não linear da exposição.