Síndrome do desconforto respiratório agudo relacionada à sepse em crianças com câncer: dinâmica respiratória de uma condição devastadora
Sepsis-related acute respiratory distress syndrome in children with cancer: the respiratory dynamics of a devastating condition

Rev. bras. ter. intensiva; 28 (4), 2016
Publication year: 2016

RESUMO Objetivo:

Avaliar a evolução clínica e os parâmetros respiratórios de crianças com câncer submetidas à ventilação mecânica que apresentavam síndrome do desconforto respiratório agudo relacionada à sepse.

Métodos:

Este estudo longitudinal, prospectivo e observacional de coorte com duração de 2 anos incluiu 29 crianças e adolescentes. Dados clínicos, avaliações de gasometria sanguínea e parâmetros ventilatórios foram coletados em quatro momentos diferentes. As flutuações entre as avaliações e as diferenças entre as médias estimadas foram analisadas por meio de modelos lineares mistos, tendo como parâmetro primário (endpoint) a ocorrência de óbito dentro de 28 dias após o início da síndrome do desconforto respiratório agudo.

Resultados:

Ocorreram 17 óbitos dentro de 28 dias após o início da síndrome do desconforto respiratório agudo, e outros 7 entre 29 e 60 dias. Apenas cinco pacientes sobreviveram por mais de 60 dias. Nove (31%) pacientes faleceram como consequência direta de hipoxemia refratária, e os demais em razão de falência de múltiplos órgãos e choque refratário a catecolaminas. Em 66% das avaliações, o volume corrente demandado para obter saturação de oxigênio igual ou acima de 90% foi superior a 7mL/kg. As médias estimadas de complacência dinâmica foram baixas e similares para sobreviventes e não sobreviventes, porém com inclinação negativa da reta entre a primeira e última avaliações, acompanhada por uma inclinação negativa da reta para volume corrente nos não sobreviventes. Os não sobreviventes tiveram significantemente mais hipoxemia, com relações PaO2/FiO2 que demonstravam médias mais baixas e inclinação negativa da reta nas quatro avaliações. As pressões pico, expiratória e média das vias aéreas demonstraram inclinações positivas na reta para os não sobreviventes, que também apresentaram mais acidose metabólica.

Conclusões:

Na maioria de nossas crianças com câncer, a sepse e a síndrome do desconforto respiratório agudo evoluíram com deterioração dos índices ventilatórios e progressiva disfunção de órgãos, o que tornou esta tríade praticamente fatal em crianças.

ABSTRACT Objective:

To evaluate the clinical course and respiratory parameters of mechanically ventilated children with cancer suffering from sepsis-related acute respiratory distress syndrome.

Methods:

This 2-year prospective, longitudinal, observational cohort study enrolled 29 children and adolescents. Clinical data, measurements of blood gases and ventilation parameters were collected at four different time points. Fluctuations between measurements as well as differences in estimated means were analyzed by linear mixed models in which death within 28 days from the onset of acute respiratory distress syndrome was the primary endpoint.

Results:

There were 17 deaths within 28 days of acute respiratory distress syndrome onset and another 7 between 29 - 60 days. Only 5 patients survived for more than 60 days. Nine (31%) patients died as a direct consequence of refractory hypoxemia, and the others died of multiple organ failure and catecholamine-refractory shock. In 66% of the measurements, the tidal volume required to obtain oxygen saturation equal to or above 90% was greater than 7mL/kg. The estimated means of dynamic compliance were low and were similar for survivors and non-survivors but with a negative slope between the first and final measurements, accompanied by a negative slope of the tidal volume for non-survivors. Non-survivors were significantly more hypoxemic, with PaO2/FiO2 ratios showing lower estimated means and a negative slope along the four measurements. Peak, expiratory and mean airway pressures showed positive slopes in the non-survivors, who also had more metabolic acidosis.

Conclusions:

In most of our children with cancer, sepsis and acute respiratory distress syndrome progressed with deteriorating ventilation indexes and escalating organic dysfunction, making this triad nearly fatal in children.

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