Saúde vocal e mHealth: novas alternativas para antigos cenários
Vocal health and mHealth: novel alternatives for old scenarios

Rev. bras. promoç. saúde (Online); 30 (1), 2017
Publication year: 2017

O mundo vivencia a era da comunicação, e a saúde é uma das áreas beneficiadas pela inserção de novos recursos na vida das pessoas. Nesse contexto, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) ocupam lugar de destaque, aplicando-se ao processamento, armazenamento, busca e transmissão de informação em formato digital, trazendo mais velocidade e confiabilidade à troca de informações(1,2). Na área da saúde, as TICs exercem um papel cada vez mais relevante, estando presentes nas áreas clínica, gerencial, assistencial e de apoio à decisão dos profissionais e gestores. Nesse cenário, a tecnologia pode influenciar e modificar o modo de viver e de agir das pessoas, inclusive quando essas questões passam pelo contexto da promoção da saúde e do cuidado. Confirma-se, dessa forma, a relevância da incorporação das tecnologias na assistência à saúde(3,4). No caso da saúde vocal, implica em um redimensionamento do autocuidado, uma vez que os acometimentos do aparelho fonador fazem parte do universo dos profissionais que utilizam a voz, destacando-se os professores, sendo uma realidade que requer enfrentamento por meio de medidas políticas e tecnológicas que ofereçam resolubilidade para esse problema tão recorrente. Um estudo(5) realizado com 351 professoras de escolas municipais do ensino fundamental de Fortaleza, Ceará, mostrou que mais da metade delas apresenta mais de seis sintomas vocais, e que, mesmo considerando-se expostas a mais de seis fatores de risco vocal, nunca participaram de programa de saúde vocal, o que converge com outros estudos brasileiros(6,7). Ressalta-se que, além da escassez de ações educativas em saúde vocal, as políticas públicas brasileiras e a legislação voltadas à saúde do professor são falhas e restritas(8), e, por isso, chama-se atenção para a importância do desenvolvimento de campanhas de comunicação em saúde e em recursos tecnológicos voltados à saúde vocal para reforçar a necessidade de cuidar continuamente da voz. Diante desses dados, acredita-se que a ampliação do conhecimento sobre voz e a utilização de novas estratégias de comunicação possam favorecer o desenvolvimento de um vantajoso trabalho que contribua para a aprendizagem e o bem-estar de cada profissional da voz. Para isso, pode-se lançar mão de diversas tecnologias, dentre as quais se destacam as tecnologias móveis aplicadas à saúde (mHealth). A área de pesquisa em saúde móvel (mHealth), ramo da saúde eletrônica (eHealth) definido como "o uso de tecnologias de computação e comunicações móveis em cuidados de saúde e de saúde pública", tem estado em constante expansão. As aplicações móveis para a saúde atendem a um público heterogêneo - médicos, enfermeiros, pacientes, cuidadores e pessoas saudáveis(9) - e a fins variados(10), tais como informações nas diversas áreas da saúde, adesão a tratamento(s) e gestão da doença. No Brasil, existem poucos estudos que abordam a temática saúde vocal e tecnologia. Contudo, é possível observar a inserção de várias ferramentas no cotidiano dos fonoaudiólogos, as quais lhes dão suporte e são reconhecidas como tipos de tecnologia. Podem ser citados como exemplo cartilhas, softwares, aplicativos informativos e plataformas de ensino a distância, todos voltados à saúde vocal, os quais facilitam o trabalho fonoaudiológico, porém não oferecem interatividade. A partir dos recursos mencionados, acredita-se que a tecnologia mHealth, diante do dinamismo e das facilidades que oferece, como a possibilidade de realizar ações a qualquer tempo e em qualquer lugar, contribua para a promoção da saúde vocal dos professores, uma vez que as múltiplas atribuições e a falta de tempo levam o professor, muitas vezes, a menosprezar os seus problemas, buscando ajuda somente quando a(s) alteração(ões) vocal(is) já está(ão) instalada(s)(11). Ante a carência de aplicativos que favoreçam os cuidados com a saúde vocal, desenvolveu-se, na Universidade de Fortaleza, por meio de uma parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e o Laboratório de Inovação e Novos Negócios do Núcleo de Aplicação em Tecnologia da Informação (NATI), o aplicativo VoiceGuard, uma ferramenta que propicia o apoio individualizado na gestão do uso da voz. Esse aplicativo apresenta como diferencial a oferta de uma variedade de recursos para o gerenciamento e o monitoramento amplo e integral da saúde vocal, inclusive em tempo real, favorecendo maior autonomia do professor e a redução dos acometimentos vocais. Acredita-se que essa tecnologia seja uma importante ferramenta para a promoção e o cuidado com a saúde vocal, sendo um recurso moderno para o enfrentamento de um antigo problema: as alterações vocais dos professores. A Revista Brasileira em Promoção da Saúde acredita na disseminação desse e de outros inovadores produtos tecnológicos aplicados à saúde e ao bem-estar, dada a velocidade das interações científicas em prol do acesso ilimitado à saúde.
The world is experiencing the communication age, and health is among the areas that reap benefits from the insertion of new resources into people’s lives. In this context, Information and Communication Technologies (ICTs) hold a prominent place, being applied to information processing, storage, search and transmission in digital format, providing increased agility and reliability to information exchange(1,2). In the health area, ICTs play a progressively more important role, being present in the areas of clinical, managerial and assistance practices, as well as in support to decision-making on the part of professionals and managers. In this scenario, technology can influence and modify people’s way of living and acting, even when these issues are related to the health promotion and care context. The relevance of incorporating technologies into health care is thus reassured(3,4). With regard to vocal health, it implies a re-dimensioning of self-care, once the disorders of the vocal apparatus are part of the universe of professionals who use their voice, with emphasis on the teachers, this being a reality that requires confrontation through political and technological measures that offer resolution for such a recurrent problem as this. A study(5) carried out with 351 female teachers working at municipal elementary schools of Fortaleza, Ceará, Brazil, has shown that more than half of them presented more than six vocal symptoms and that, despite perceiving themselves exposed to more than six vocal risk factors, they had never participated in a vocal health program, which corroborates other Brazilian studies(6,7). It should be emphasized that, in addition to the shortage of educational actions in vocal health, Brazilian public policies and legislation aimed at teachers’ health are flawed and restricted(8). Therefore, attention is drawn to the importance of developing communication campaigns addressing health and the technological resources aimed at vocal health, in order to reinforce the need for continuously taking care of the voice. Given this data, it is believed that the expansion of voice knowledge and the use of novel communication strategies may favor the development of an advantageous work that contributes to the learning process and to the well-being of each voice-centered professional. With this aim, several technologies can be employed, among which mobile health technologies (mHealth) stand out. The area of mobile health research (mHealth), a branch of electronic health (eHealth) defined as “the use of computing and mobile communication technologies in health care and public health”, has been steadily expanding. Mobile health applications serve a heterogeneous public - doctors, nurses, patients, caregivers and healthy people(9) - and suit a range of purposes(10), such as information in a number of health areas, adherence to treatment(s) and disease management. In Brazil, there are a few studies addressing the topic of vocal health and technology. Nevertheless, it is possible to observe the insertion of several tools in the daily life of speech therapists, which support them and are recognized as types of technology. Booklets, softwares, informative applications and distance education platforms, all aimed at vocal health, can be cited as examples of facilitation strategies in speech therapy practices, which do not offer interactivity, though. Based on the aforementioned resources, it is believed that mHealth technology, given its dynamism and the facilitations it offers, such as the possibility to carry out actions at any time and anywhere, can contribute to the promotion of teachers’ vocal health, since their multiple assignments and lack of time often lead the teacher to overlook their problems, only seeking help after the onset of vocal change(s)(11). In view of the shortage of applications favoring vocal health care, and by means of a partnership between the Graduate Program in Public Health of the University of Fortaleza and the Laboratory of Innovation and New Businesses of the Information Technology Application Nucleus (Núcleo de Aplicação em Tecnologia da Informação - NATI) it was developed, at this institution, the VoiceGuard application, a tool that provides individualized support for the management of voice usage. This application presents as distinguishing features the offer of a variety of resources for extensive and comprehensive management and monitoring of vocal health, even on a real-time basis, thus favoring the teachers’ autonomy and the reduction of vocal disorders. This technology is recognized as an important tool for vocal health promotion and care, constituting a modern resource for dealing with an old problem: the vocal disorders affecting teachers. The Brazilian Journal on Health Promotion believes in the dissemination of this and other innovative technological products applied to health and well-being, given the speed of scientific interactions, in favor of the unlimited access to health.

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