Terapias anticoagulantes na doença renal crônica
Anticoagulant therapies in chronic renal disease
Rev. Soc. Cardiol. Estado de Säo Paulo; 27 (3), 2017
Publication year: 2017
Os pacientes com doença renal crônica (DRC) têm tendências hemorrágicas e trombóticas
e, por isso, a indicação de anticoagulantes é complexa nos indivíduos com fibrilação
atrial (FA). A FA é a arritmia mais frequente na DRC, sendo o tromboembolismo e o
ictus suas principais complicações. A introdução de novos anticoagulantes orais diretos
(DOACs) tem se mostrado superior aos antagonistas da vitamina K, tanto na prevenção
de tromboembolismos sistêmicos como no risco de sangramento. Contudo, devem
ser prescritos com cautela nesse grupo de pacientes. Para os indivíduos com DRC e
clearance renal entre 30 e 50 ml/min, as doses da dabigatrana e da rivaroxabana devem
ser reduzidas, no caso de pacientes com elevado risco de sangramento, não havendo
necessidade de reduzir as doses de apixabana e edoxabana. Em pacientes com clearance
renal entre 15 e 29 ml/min o uso da dabigatrana é contraindicado, a rivaroxabana
e a edoxabana não exigem ajuste terapêutico e a dose de apixabana deve ser ajustada.
Nenhum dos DOACs é indicado em pacientes com clearance renal < 15 mg/min. Outro
problema da terapêutica com os DOACs é o custo do medicamento, muito superior aos
dos antagonistas da vitamina K, trazendo algumas implicações clínicas relevantes: suspensão
terapêutica por restrições econômicas, que mesmo quando transitória, coloca
o paciente em risco de eventos tromboembólicos devido à perda rápida de seus efeitos
anticoagulantes e pela possibilidade de hipercoagulabilidade paradoxal. A maior parte da
população é tratada em hospitais públicos e recebe os antagonistas de vitamina K. Por
isso, enquanto a relação custo-efetividade dos DOACs não for esclarecida, a prevenção
e o tratamento de pacientes com DRC e FA com os antagonistas de vitamina K estão
consagrados e podem trazer benefícios para esse grupo de pacientes
Patients with chronic renal disease (CRD) have hemorrhagic and thrombotic tendencies,
therefore the indication of anticoagulants is complex in individuals with atrial fibrillation (AF).
AF is the most frequent arrhythmia in CRD, and thromboembolism and cerebral stroke are its
main complications. The introduction of new oral anticoagulants (DOACs) has proven to be
superior to vitamin K antagonists in preventing systemic thromboembolisms and bleeding
risk. However, they should be prescribed with caution in this group of patients. For individuals
with CRD and renal clearance between 30 and 50 ml/min, the doses of dabigatran
and rivaroxaban should be reduced, in the case of patients with high risk of bleeding, and
it is not necessary to reduce the doses of apixaban and edoxaban. In patients with renal
clearance between 15 and 29 ml/min, the use of dabigatran is contraindicated, rivaroxaban
and edoxaban do not require therapeutic adjustment, and the dose of apixaban should be
adjusted. No DOACs is indicated in patients with renal clearance < 15 mg/min. Another
problem with DOACs therapy is the cost of the medication, which is much higher than that
of vitamin K antagonists, with some important clinical implications: therapeutic suspension
due to economic restrictions, even if temporary, place the patient at risk of thromboembolic
events due to the rapid loss of anticoagulant effects and the possibility of paradoxical hypercoagulability.
Most of the population is treated in public hospitals, and receives vitamin K
antagonists. Therefore, while the cost-effectiveness ratio of DOACs has not been clarified,
prevention and treatment of patients with CRD and AF with vitamin K antagonists is consecrated,
and can bring benefits for this group of patients
Insuficiencia Renal Crónica/terapia, Accidente Cerebrovascular/complicaciones, Anticoagulantes/uso terapéutico, Factores de Riesgo, Fibrilación Atrial/terapia, Prevalencia, Tromboembolia/terapia, Fibrinolíticos/uso terapéutico, Electrocardiografía Ambulatoria/métodos, Factor X, Dabigatrán/efectos adversos, Dabigatrán/uso terapéutico, Rivaroxabán/uso terapéutico, Hemorragia/terapia, Warfarina/efectos adversos