Arq. bras. oftalmol; 66 (5), 2003
Publication year: 2003
OBJETIVO:
Avaliar os aspectos psicológicos decorrentes da anoftalmia unilateral adquirida, a luta pela recuperação estética com o uso de prótese ocular, assim como os fatores interpessoais envolvidos e a reintegração psicossocial destes pacientes. MÉTODO:
Trinta pacientes portadores de anoftalmia unilateral adquirida, sem outras deformidades órbito-palpebrais e usuários de prótese ocular, sendo 16 do sexo masculino e 14 feminino, com idade variando de 12 a 66 anos, idade média 31,6 anos foram submetidos a exame oftalmológico e avaliação psicológica, por meio de questionário padronizado e semidirigido de 66 questões, com duração média de 2 horas no período de janeiro/2000 a março/2001. RESULTADOS:
A maior incidência de anoftalmia adquirida (47 por cento) está na faixa etária de 0 a 6 anos. Setenta por cento dos pacientes estão em processo de elaboração da perda (n=21) e os mecanismos de defesa mais utilizados em face da situação instalada foram racionalização, repressão, negação e deslocamento. Trinta por cento aceitam a realidade atual. Após o evento desencadeador (ED) 37 por cento manifestaram estado depressivo, tendo desaparecido os sintomas em 64 por cento deles. Sessenta por cento adaptaram a prótese ocular (PO) logo após o tratamento cirúrgico ao passo que 40 por cento adaptaram-na 2 ou mais anos após o ED. Esteticamente 70 por cento estão satisfeitos ao passo que 30 por cento estão insatisfeitos. Cinqüenta e três por cento revelam auto-estima rebaixada e 37 por cento auto-imagem distorcida. CONCLUSÃO:
A integração entre os vários elementos da equipe multidisciplinar constituída por cirurgiões, protéticos, psicólogos e o apoio da família é fundamental durante todo o processo de luto instalado pela perda. Atitude positiva para com a pessoa acometida facilita a vivência da perda em sua totalidade, o que proporcionará a reestruturação dos aspectos interpessoais e reintegração psicossocial da pessoa, pois os recursos de enfrentamento delas estarão fortalecidos. A prótese exerce dupla função, pois de um lado devolve ao paciente sua auto-imagem e auto-estima, possibilitando sua reintegração psicossocial, enquanto por outro lado, pode tornar-se um instrumento que afasta a possibilidade da perda ser vivenciada...