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Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade (Online); 10 (37), 2015
Publication year: 2015

A nova edição da Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade traz uma variedade de artigos que vão da clínica à organização dos serviços, passando pela abordagem comunitária. O objetivo da revista é que se aproxime cada vez mais da linha de frente e da especificidade. Nesta edição, Poli Neto et al. descrevem um relato de experiência sobre o uso do correio eletrônico em uma equipe de saúde da família. Todas as tecnologias a serem implementadas, das mais processuais às mais densas tecnologicamente, devem ser acompanhadas de estudos que avaliem seu custo-efetividade, dentre outros indicadores. Não basta ter conexão com os atributos da Atenção Primária à Saúde (APS) ou uma base epistemológica consistente. O artigo aborda, por exemplo, o risco que o acesso por meio eletrônico poderia configurar para a equidade. Pessoas com mais acesso ao computador e jovens com menos multimorbidades poderiam ocupar o tempo da equipe. O risco à equidade, ou seja, oferecer mais a quem menos precisa, é inerente a serviços nos quais há um descompasso entre demanda e oferta, como é a realidade em muitas equipes de saúde da família. O custo de oportunidade deve sempre ser avaliado em estudos que avaliem incorporações tecnológicas.1 Sempre quando estamos fazendo algo, deixamos de fazer outras ações que poderiam ter melhor impacto. Não parece ser tradição ibero-americana nem avaliar novas tecnologias em especial quando se trata de processo de trabalho, nem medir ou mesmo se preocupar com o custo de oportunidade. Apesar de o artigo ser um relato de experiência, traz dados importantes do tempo que se leva entre o recebimento e a resposta dos e-mails e uma estimativa de quanto tempo se gasta com essa demanda. É importante continuar explorando este campo procurando responder perguntas como “os pacientes que demandam por e-mail diminuem a procura presencial?” e “qual o impacto na clínica (morbimortalidade) ou na satisfação?”. Hoje, a comunicação virtual é uma realidade e não faz sentido ficar alijada da relação médico-paciente. Precisa ser incorporada com qualidade e responsabilidade e, acima de tudo, de uma forma científica. Loch et al. publicam um artigo sobre estoque domiciliar de medicamentos. Esta é uma área pouco explorada por pesquisadores e é um campo de interface entre a assistência farmacêutica e a medicina de família e comunidade, configurando um campo fértil para pesquisas em APS. No artigo, os autores abordam quais medicamentos são mais explorados, bem como os riscos tanto do armazenamento quanto do descarte. Muitos lugares do Brasil têm programas de entrega de medicamentos de uso crônico em casa,2 que se não for integrado com as equipes para que as receitas sejam atualizadas aumenta a quantidade estocada e, consequentemente, o desperdício. Os autores discutem sobre a importância de um programa de recolhimento de medicamentos vencidos. O sentido de se fazer pesquisa em APS é conhecer a realidade. Cada unidade de saúde é um campo de pesquisa em potencial. Cada consulta é, por si só, uma pesquisa qualitativa e cada lista de pacientes uma coorte interessante. Santos e Ribeiro trazem um diagnóstico de demanda realizado em Fortaleza com dados de consultas realizadas durante seis meses. Foi possível inferir a frequentação dentro outros dados cruciais para o planejamento das equipes. A maior parte dos motivos de consulta foi por sintomas, o que demonstra abertura para problemas agudos ou crônico-agudizados, evitando focar apenas em ações programáticas para condições estabelecidas. No mesmo sentido de conhecer a própria população que atende, Marques et al. conduziram estudo transversal sobre obesidade infantil testando associações com comportamentos. O risco de má alimentação é maior que de desnutrição clássica, como era frequente há algumas décadas. Mesmo assim, é interessante observar que crianças de escolas particulares têm maior risco de sobrepeso do que crianças da rede pública. Por fim, Costa et al. descrevem um caso de “tinha incógnita”, que acontece quando o uso de corticoide tópico mascara a doença, que passa a ter uma apresentação não usual. O abuso de desta medicação é frequente e, portanto, é preciso estar atento para esta situação clínica. Esperamos que o leitor se sinta contemplado e identifique nos artigos e nas pesquisas respostas e questionamentos para o seu dia-a-dia. Cada consulta, cada unidade de saúde e cada conjunto de serviços é um campo de pesquisa natural que precisa ser explorado e os dados compartilhados para que todos possam retroalimentar este círculo potencialmente virtuoso que é a rede de serviços.

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