À margem da humanização? Experiências de parto de usuárias de uma maternidade pública de Porto Alegre-RS
Apart from humanization? Birth experiences of users of a public maternity hospital in Porto Alegre-RS, Brazil

Physis (Rio J.); 27 (4), 2017
Publication year: 2017

Resumo O artigo reflete sobre as experiências de mulheres em relação à assistência ao parto numa maternidade pública de Porto Alegre-RS. Adota-se uma perspectiva dos direitos humanos, entendendo a humanização como uma garantia ampla de direitos das mulheres a uma parturição segura, socialmente amparada e prazerosa. Trata-se de um estudo qualitativo exploratório, que utilizou as técnicas de observação participante, entrevista semiestruturada e pesquisa documental. Aceitaram fazer parte da pesquisa 25 mulheres puérperas, com idades entre 18 e 38 anos. Os relatos das participantes e os registros de campo foram examinados por meio da análise de discurso. Como resultados, constatamos uma fragmentação das práticas tidas como "humanizadoras", atreladas a protocolos de procedimentos no manejo do parto e, muitas vezes, à inflexibilidade perante eles. A supervalorização de tecnologias/práticas intervencionistas no corpo da mulher, assim como as hierarquias entre profissionais e usuárias apareceram nos relatos e nas observações. Sentimentos e sensações das mulheres em relação ao parto pareciam não ser contemplados e ficavam à margem do cuidado. Identificaram-se práticas de violência obstétrica, que muitas vezes eram banalizadas pelas próprias mulheres em consonância ao que elas esperavam de um atendimento público. Essas situações parecem reforçar hierarquias reprodutivas, deixando essas gestantes "à margem da humanização".
Abstract This paper reflects on the experiences of women regarding childbirth care in a public maternity hospital in Porto Alegre-RS. It adopts a human rights perspective, understanding humanization as a broad guarantee of women's rights to a safe, socially supported and pleasurable parturition. This is an exploratory qualitative study, using participant observation techniques, semi-structured interviews and documentary research. Twenty-five postpartum women, aged between 18 and 38, took part in the study. Participant reports and field records were examined through Discourse Analysis. As a result, it was identified a fragmented nature of the practices considered as "humanizing", linked to protocols of procedures in the management of childbirth and often linked to inflexibility regarding these protocols. The overrating of interventionist technologies/ practices in women's body, as well as the hierarchies between professionals and users appeared in the reports and the observations. Subjective experiences of motherhood seemed not to be considered and were left on the margins of care. It was identified specific modes of obstetric violence experienced by grassroots women, which are trivialized by the women themselves in accordance with what they expected from a public service. These situations reinforce reproductive hierarchies and end up leaving these pregnant women "on the fringes of humanization".

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