O que é a fenomenologia?: Parte I, a fenomenologia de Husserl
What is Phenomenology?: Part I, Husserl's Phenomenology
Rev. abordagem gestál. (Impr.); 23 (2), 2017
Publication year: 2017
Questão por demais irritante para o profano que escuta soar essa palavra em seus ouvidos e gostaria de compreender, ainda que em linhas gerais, pelo menos, do que ela trata, ao tempo que para o historiador da filosofia ou o filósofo especialista resta o sentimento de seguir uma doutrina inapreensível e jamais claramente definida durante os cinquenta anos da rica evolução que, de Husserl, segue através de Scheler, Heidegger, Sartre e vários outros até Merleau-Ponty. A fenomenologia parece um Proteu que ora surge como uma pesquisa objetiva das essências lógicas ou das significações, ora como uma teoria da abstração; por vezes como uma descrição psicológica profunda ou uma análise da consciência, outras vezes como uma especulação sobre o "Ego transcendental"; ora como um método de aproximação concreto da existência vivida, e às vezes parece, como em Sartre ou Merleau-Ponty, se confundir pura e simplesmente com o existencialismo. Certo que a meada está atualmente um pouco emaranhada. Por esta razão, seria fácil demais extrair daí argumentos contra a fenomenologia, acusando-a de obscurantismo ou de incerteza: uma filosofia que após cinquenta anos, não seria ainda capaz de se definir de forma clara e inequívoca, teria provado por isto mesmo uma irremediável inconsistência! Em realidade é necessário concluir exatamente o inverso: se um método forjado, de início, para um fim bem particular e limitado, pode tomar formas tão múltiplas, é que continha nele mesmo, uma verdade e uma eficácia latentes, uma potência de renovação, um princípio de superação, que testemunham uma excepcional fecundidade. Além do que, uma boa parte desse obscurantismo não proviria de nossa incapacidade de tomar todos os fios a cada vez e discernir a unidade profunda das diversas filosofias que reivindicam o título de fenomenologia? Verificamos, de início, que as revoluções verdadeiramente profundas em filosofia procedem muito mais de uma inovação de método do que de iluminações metafísicas; mas, ao mesmo tempo também, percebemos uma vez mais que aquilo que se quer como pura inovação de método, sem pressuposto, carrega consigo e faz aparecer mais cedo ou mais tarde, opções metafísicas fundamentais. O valor do método se revelará então simplesmente como proporcional à amplitude da filosofia ou à multiplicidade dos filósofos para os quais ela pode se insurgir como inspiração e alimento.