Pobreza econômica e sociocultural no abuso de drogas: da responsabilidade individual à sociopolítica
Economic and sociocultural poverty in drug abuse: from individual to sociopolitical responsibility
Saúde Soc; 27 (3), 2018
Publication year: 2018
Abstract Research on drug abuse has often ignored users' own opinions and perceptions about their addiction. In this study, we wanted to hear their voice on the reasons and motives why they engaged in drug abuse, and on the consequences this behavior had on their lives. Data were collected in Portugal from interviews with fifteen people under treatment for addictive behavior relative to alcohol and illegal drugs. The interviews were analyzed through Thematic Analysis and revealed the existence of several structural factors impacting on the lives of the participants, namely, gender discrimination, poor schooling, socioeconomic marginalization and exclusion associated to insufficient and inadequate public policies. The action of more symbolic structural factors - for instance, their widespread beliefs on drug addiction as a result of free will - through its internalization by families, friends and by addicts themselves, became visible in interviewees' narratives, in which the rejection by close ones, as well as their own feelings of guilt, sadness and self-disapproval, are prominent features. As a conclusion, we call attention to the need for an integrated public policy in the educational, health and justice areas, and the implementation of awareness-raising actions aimed at the general public, in order to attenuate the impact of structural factors on the lives of current and potential drug addicts.
Resumo A pesquisa sobre o abuso de drogas tem frequentemente ignorado as opiniões dos próprios usuários e as suas perceções sobre a sua dependência. Neste estudo, quisemos ouvir a sua voz sobre as razões e os motivos por que se engajaram no abuso de drogas e sobre as consequências que este comportamento teve nas suas vidas. Os dados foram coletados em Portugal a partir de entrevistas com quinze pessoas sob tratamento para comportamento aditivo em relação a álcool e drogas ilegais. As entrevistas foram analisadas através de análise temática e revelaram a existência de diversos fatores estruturais impactando na vida dos participantes, ou seja, discriminação de gênero, escolaridade baixa, marginalização socioeconômica e exclusão associados a políticas públicas insuficientes e inadequadas. A ação de fatores estruturais mais simbólicos - por exemplo, suas crenças generalizadas na toxicodependência como resultado do livre-arbítrio - através de sua interiorização pelas famílias, amigos e pelos viciados em si, tornou-se visível nas narrativas dos entrevistados, em que a rejeição pelos próximos, além de seus próprios sentimentos de culpa, tristeza e autodesaprovação, são características proeminentes. Como conclusão, chamamos atenção para a necessidade de uma política pública integrada nas áreas de educação, saúde e justiça, e a implementação de ações de sensibilização visando o público em geral, a fim de atenuar o impacto dos fatores estruturais sobre a vida dos atuais e potenciais viciados em drogas.