Nem tudo que reluz é ouro: discutindo prevenção quaternária a partir de ditados populares
All that glisters is not gold: discussing quaternary prevention based on popular sayings
No todo lo que reluce es oro: discutiendo prevención cuaternaria a partir de dictados populares

Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade (Online); 14 (41), 2019
Publication year: 2019

A Medicina tem convocado as pessoas a realizarem cada vez mais ações preventivas, desde medidas de pressão arterial até a aplicação de novas vacinas; entretanto, médicas e médicos de família e comunidade têm identificado riscos e limitações das ações preventivas, mostrando que nem todas elas são ética ou cientificamente justificáveis. Esse é o escopo da prevenção quaternária, que visa poupar as pessoas de sobremedicalização e procedimentos desnecessários. Vivendo em uma sociedade que prima pela alta tecnologia, onde o terror virou negócio e o autocuidado, uma obsessão, pode ser muito difícil desaconselhar a realização de algum exame ou desprescrever alguma medicação; porém, é exatamente nesse contexto que a prevenção quaternária é profundamente necessária, e a dificuldade de sua prática exige articular outros saberes e recursos além do nível de evidência ou do grau de recomendação de uma ou outra ação. As crenças em saúde são objeto de um cuidado centrado na pessoa, e muitas delas são inspiradas ou traduzidas por ditados populares. Nesse ensaio, discuto o excesso de intervenções e a prevenção quaternária a partir de alguns deles. Analisando frases como “é melhor prevenir do que remediar”, apresento os aforismos como ferramentas de compreensão da prevenção quaternária, podendo ser usados por profissionais e docentes para discutir essa prática contra-hegemônica com pacientes e estudantes. Ao articular os saberes popular e profissional, o texto contribui à competência cultural da Atenção Primária à Saúde e ajuda a produzir encontros clínicos mais harmoniosos e a promover um cuidado menos invasivo, medicalizador e danoso.
Medicine has been calling on people to carry out more and more preventive actions, from blood pressure measurements to the application of new vaccines; however, family physicians have been identifying risks and limitations of preventive actions, showing that not all of them are ethically or scientifically justifiable. This is the scope of quaternary prevention, which aims to protect people from over-medicalization and unnecessary procedures. Living in a society that excels in high technology, where terror has turned into business and self-care, an obsession, it can be very difficult to discourage some exam or to unprescribe some medication; but it is precisely in this context that quaternary prevention is deeply necessary, and the difficulty of its practice requires articulating other knowledge and resources beyond the level of evidence or the degree of recommendation of one or another action. Health beliefs are object of person-centered care, and many of them are inspired or translated by popular sayings. In this essay, I discuss the excess of interventions and quaternary prevention from some of them. Analyzing phrases such as “better safe than sorry”, I present aphorisms as tools for understanding quaternary prevention, which can be used by professionals and teachers to discuss this counter-hegemonic practice with patients and students. By articulating popular and professional knowledge, the text contributes to the cultural competence of Primary Health Care and helps to produce more harmonious clinical encounters and to promote less invasive, medicalizing and harmful care.
La Medicina ha convocado a las personas a realizar cada vez más acciones preventivas, desde medidas de presión arterial hasta la aplicación de nuevas vacunas; sin embargo, médicas y médicos de familia y comunidad han identificado riesgos y limitaciones de las acciones preventivas, mostrando que no todas ellas son ética o científicamente justificables. Este es el alcance de la prevención cuaternaria, que intenta ahorrar a las personas de sobremedicalización y procedimientos innecesarios. En una sociedad que prima por la alta tecnología, donde el terror se volvió negocio y el autocuidado, una obsesión, puede ser muy difícil desaconsejarse la realización de algún examen o desprescribir alguna medicación, pero es precisamente en ese contexto que la prevención cuaternaria es profundamente necesaria, y la dificultad de su práctica exige articular otros saberes y recursos más allá del nivel de evidencia o del grado de recomendación de cada acción. Muchas creencias en salud son inspiradas o traducidas por dichos populares; en este ensayo, discuto el exceso de intervenciones y la prevención cuaternaria a partir de algunos de ellos. Analizando frases como “más vale prevenir que curar”, presento los aforismos como herramientas de comprensión de la prevención cuaternaria, pudiendo ser usados por profesionales y docentes para discutir esa práctica contra-hegemónica con pacientes y estudiantes. Al articular los saberes popular y profesional, el texto contribuye a la competencia cultural de la Atención Primaria a la Salud y ayuda a producir encuentros clínicos más armoniosos y a promover un cuidado menos invasivo, medicalizador y dañino.

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