Estupros no Brasil e relações com o consumo de álcool: estimativas baseadas em autorrelato sigiloso
Violaciones en Brasil y su vínculo con el consumo de alcohol: estimaciones basadas en autoinformes anónimos
Rape in Brazil and relationships with alcohol consumption: estimates based on confidential self-reports
Cad. Saúde Pública (Online); 35 (2), 2019
Publication year: 2019
Com base na análise dos dados de corte transversal provenientes do Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas realizado em 2012, utilizando-se uma amostra probabilística estratificada por conglomerado representativa da população brasileira, este estudo apresenta as prevalências de estupro e analisa a relação deste evento com o consumo de álcool. Foram considerados 1.918 homens e 2.365 mulheres, totalizando uma amostra de 4.283 indivíduos. Nossos resultados estimam a prevalência de estupro na vida em 2,6% da população geral, sendo 1,7% entre os homens e 3,5% entre as mulheres. Para ambos os sexos, as maiores prevalências se concentraram entre indivíduos com idades entre 26 e 59 anos (3,3%), com baixa escolaridade (3,8%), solteiros, divorciados ou viúvos (3,1%). Entre os indivíduos com diagnóstico para transtorno por uso de álcool de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), 6% relataram ser vítimas de estupro, bem como, 3,3% daqueles que disseram beber pesado episódico (binge). Análises de regressão logística e multifatorial indicaram que tanto para mulheres quanto para homens a idade (aqueles entre 26 e 59 anos), o estado civil (solteiro), o diagnóstico de transtorno por uso de álcool e o beber pesado episódico são fatores associados ao aumento da probabilidade de vitimização por estupro, enquanto maior nível de educação (mais do que 9 anos de estudos) revelou-se um fator capaz de diminuir as chances de ocorrência. A identificação da amplitude desse problema de saúde pública, bem como a avaliação da urgência na implantação de medidas preventivas e assistenciais, partem do conhecimento das prevalências e do perfil sociodemográfico das vítimas.
En base a un análisis de datos de corte transversal, procedente del Segundo Estudio Nacional sobre Alcohol y Drogas, realizado en 2012, utilizando un muestreo probabilístico estratificado por conglomerados -representativo de la población brasileña-, este estudio presenta las prevalencias de violación y analiza su relación con el consumo de alcohol. Se consideraron a 1.918 hombres y 2.365 mujeres, totalizando una muestra de 4.283 individuos. Nuestros resultados estiman la prevalencia de violación durante la vida en un 2,6% de la población general, siendo 1,7% en el caso de los hombres y 3,5% en las mujeres. Para ambos sexos, las mayores prevalencias se concentraron entre individuos con edades entre 26 y 59 años (3,3%), con baja escolaridad (3,8%), solteros, divorciados o viudos (3,1%). Entre los individuos diagnosticados con trastorno, debido al consumo de alcohol, de acuerdo con el DSM- 5 (Manual Diagnśotico y Estadístico de los Trastornos Mentales), un 6% informaron ser víctimas de violación, asimismo, un 3,3% de ellos dijeron beber en grandes cantidades episódicamente (binge). Los análisis de regresión logística y multifactorial indicaron que tanto para mujeres, como para hombres, la edad (quienes tenían entre 26 y 59 años), estado civil (soltero), diagnóstico de trastorno por consumo de alcohol, y beber en grandes cantidades episódicamente, son factores asociados al aumento de la probabilidad de victimización por violación, sin embargo, cuanto mayor era el nivel de educación (más de 9 años de estudios), mayor era la capacidad de disminuir las oportunidades de ocurrencia. La identificación de la dimensión de este problema de salud pública, así como la evaluación de la urgencia en la implantación de medidas preventivas y asistenciales, parten del conocimiento de las prevalencias y del perfil sociodemográfico de las víctimas.
This study presents the rape prevalence and its relationship with alcohol consumption based on the analysis of cross-sectional data from the 2012 Second National Alcohol and Drugs Survey, which used a cluster-stratified probabilistic sample of the Brazilian population. We included 1,918 men and 2,365 women, for a total sample of 4,283 individuals. Our results estimate the over-lifetime rape prevalence at 2.6% for the entire population, 1.7% for men and 3.5% for women. For both sexes, the highest prevalences were concentrated among those aged between 26 and 59 years (3.3%), those with low educational levels (3.8%), and those who were single, divorced or widowed (3.1%). Among individuals who were diagnosed with alcohol use disorder, according to the DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), 6% reported having been raped, as did 3.3% of those who reported binge drinking. Logistical and multivariate regression analyses showed that, for both women and men, age (those between 26 and 59 years), marital status (single), alcohol use disorder and binge drinking are factors associated with an increased probability of being raped, whereas a higher educational level (more than 9 years of schooling) was shown to be capable of reducing the odds of being raped. Awareness of prevalences and of victims' sociodemographic profiles is necessary in order to identify the scope of this public health problem as well as to evaluate the urgency of implementing preventative and supportive measures.