Representações sociais de nutricionistas do Núcleo Ampliado de Saúde da Família sobre educação alimentar e nutricional

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Mestre. Leader: Bethony, Maria Flávia Gazzinelli

Entre as ações de promoção à saúde desenvolvidas na Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil estão aquelas relacionadas à educação alimentar e nutricional (EAN), realizadas por nutricionistas do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). Com o objetivo de unificar o conceito de EAN, promover reflexão e orientação da prática, e direcionar as ações para as áreas da saúde, educação e assistência, para o emprego de recursos e abordagens educacionais ativas e problematizadoras, promovendo um campo comum de reflexão e orientação da prática de EAN, propôs-se em 2012 o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas, porém, não obstante o Marco, estudos mostram que as práticas de EAN apresentam raízes biomédicas e operam com a transmissão de conhecimento, indicando que o modo de realizar a EAN não modificou-se. A prática dos profissionais, o modo como pensam e agem, influencia-se por experiências psicossociais e culturais. Compreender os conhecimentos, atitudes e comportamentos dos profissionais implica conhecer as representações que possuem dos objetos e fins aos quais almejam atingir, e indica a importância de estudar-se mais detalhadamente as representações sociais de quem as realiza, incluindo as atitudes, comportamentos e escolhas em diferentes domínios. A análise das representações dos nutricionistas do NASF-AB sobre EAN poderá auxiliar na compreensão da execução de suas práticas educativas, e permitirá encontrar indícios que expliquem as razões das práticas ainda não terem se adequado às diretrizes do Marco de Referência.

Objetivo:

analisar as representações sociais de nutricionistas do NASF-AB sobre a EAN.

Metodologia:

tratou-se de estudo descritivo, com base na Teoria das Representações Sociais (TRS), delineado com método qualitativo de pesquisa, realizado com 31 nutricionistas lotadas no NASF-AB da prefeitura de Belo Horizonte, a partir de entrevistas e questionário semiestruturado. Para determinar o tamanho amostral, utilizou-se amostragem probabilística aleatória estratificada com intervalo de confiança de 90%. Analisaram-se as variáveis dos questionários com distribuição de frequência, e os dados das entrevistas a partir da análise de conteúdo.

Resultados:

recolheram-se representações sociais das entrevistas realizadas, agrupando-as em quatro 8 categorias: EAN é ensinar, educar e orientar para alimentação saudável; EAN é mudar hábitos, práticas e comportamento; EAN é gerar autonomia; EAN é experimentar e trocar experiências. As duas primeiras categorias possuem representações sociais ancoradas no paradigma biomédico de saúde, com representações sociais de EAN normativas por privilegiarem a transmissão de informações sobre características nutricionais dos alimentos e por relacionarem a modificação de comportamentos e hábitos alimentares à reeducação nutricional. As representações sociais das demais categorias ancoram-se no paradigma biopsicossocial, por levarem em consideração as características sociais, culturais e subjetivas dos participantes dos processos educativos, porém, a abordagem a determinados temas na perspectiva do profissional em detrimento da do participante, remete também ao paradigma biomédico em saúde. Em ambas as representações sociais com caráter biopsicossocial, observa-se a convivência na prática destes profissionais de duas racionalidades que se pautam em matrizes epistemológicas distintas e, muitas vezes, antagônicas, o que pode revelar uma tentativa de ruptura com os modelos hegemônicos da educação em saúde, contrapondo-se à tendência dominante de desenvolver práticas educativas que constituam modos específicos de subjetivação baseados na normatividade e na homogeneização dos participantes. Deste modo, interpreta-se que o investimento em uma educação pela via do sensível e da experimentação, decorre neste estudo muito mais da intenção de romper com um modelo dominante reconhecidamente frágil em termos da produção de respostas, do que propriamente de uma compreensão da educação dentro de um outro enquadramento teórico segundo o qual a aprendizagem acontece pela decifração de signos.

Considerações finais:

espera-se que esta pesquisa contribua para reflexões sobre como a EAN é realizada no NASF-AB, e propicie discussões de práticas de EAN que privilegiem experimentações, despertando e aguçando sentidos. A experimentação convoca à invenção de novos modos de subjetivação e, consequentemente, à produção de conhecimento.(AU)
Among the health promotion actions developed in PHC in Brazil are those related to food and nutritional education (EAN) carried out by nutritionists from the Expanded Nucleus of Family Health and Basic Care (NASF-AB). In order to unify the concept of EAN, promote reflection and orientation of the practice, and direct actions in the areas of health, education and assistance, for the use of active and problematizing educational resources and approaches, promoting a common field of reflection and orientation of the EAN practice, the Food and Nutrition Education Reference Framework for Public Policies was proposed in 2012, but despite the Framework, studies show that EAN practices have biomedical roots and operate with the transmission of knowledge, indicating that the mode of performing the EAN did not change. The practice of professionals, the way they think and act, is influenced by psychosocial and cultural experiences. Understanding the professionals' knowledge, attitudes and behaviors implies knowing the representations they have of the objects and ends that they aim to achieve, and indicates the importance of studying in more detail the social representations of those who perform them, including attitudes, behaviors and choices in different domains. Analysis of NASF-AB nutritionists' representations of EAN may help in understanding the implementation of their educational practices, and will allow us to find evidence to explain why the practices have not yet adapted to the Framework of Reference guidelines.

Objective:

To analyze the social representations of nutritionists of the NASF-AB on EAN.

Methodology:

This was a descriptive study, based on the Social Representations Theory (TRS), delineated with a qualitative method of research, carried out with 31 nutritionists at NASF-AB, Belo Horizonte City Hall, based on interviews and semi-structured questionnaire. To determine the sample size, we used stratified random probabilistic sampling with a 90% confidence interval. We analyzed the variables of the questionnaires with frequency distribution, and the interview data from the content analysis.

Results:

social representations of the interviews were collected, grouping them into four categories: EAN is to teach, educate and guide to healthy eating; EAN is to change habits, practices and behavior; EAN is to generate autonomy; EAN is to experiment and exchange experiences. The first two categories 10 have social representations anchored in the biomedical health paradigm, with social representations of normative NANs for privileging the transmission of information about nutritional characteristics of foods and for relating the modification of behaviors and eating habits to nutritional reeducation. The social representations of the other categories are anchored in the biopsychosocial paradigm, taking into account the social, cultural and subjective characteristics of the participants in the educational processes. However, the approach to certain subjects from the perspective of the professional to the detriment of the participant also refers to the biomedical paradigm in health. In both social representations with a biopsychosocial character, it is observed the coexistence in the practice of these professionals of two rationalities that are based on distinct and often antagonistic epistemological matrices, which may reveal an attempt to break with the hegemonic models of education in health, opposing the dominant tendency to develop educational practices that constitute specific modes of subjectivation based on the normativity and the homogenization of the participants. In this way, it is interpreted that the investment in an education through the way of the sensible and the experimentation, stems in this study much more of the intention to break with a dominant model admittedly fragile in terms of the production of answers, than of an understanding of education within another theoretical framework according to which learning takes place by the decipherment of signs.

Final considerations:

this research is expected to contribute to reflections on how EAN is performed in NASF-AB, and to allow discussions of EAN practices that privilege experimentation, awakening and sharpening senses. Experimentation calls for the invention of new modes of subjectivation and, consequently, the production of knowledge.(AU)

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