Trabalhando no território: violência relacionada ao trabalho da equipe de saúde da Estratégia de Saúde da Família

Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro to obtain the academic title of Mestre. Leader: Oliveira, Elias Barbosa de

O presente estudo tem como objeto a “violência relacionada ao trabalho da equipe de saúde da Estratégia de Saúde da Família e as implicações para a saúde dos trabalhadores”.

Os objetivos do estudo foram:

identificar os tipos de violência relacionados ao trabalho na ESF, na visão dos trabalhadores da saúde; descrever as repercussões da violência relacionadas ao trabalho para a saúde dos trabalhadores e analisar as estratégias de enfrentamento adotadas pelos trabalhadores. Estudo qualitativo do tipo descritivo e exploratório. O campo foi uma unidade de ESF da Área Programática 3.2, localizada no município do Rio de Janeiro. Participaram do estudo 27 trabalhadores, sendo: 13 agentes comunitários de saúde, 2 auxiliares de saúde bucal, 3 enfermeiros, 4 médicos, 4 técnicos de enfermagem, 1 técnico de saúde bucal. Na coleta dos depoimentos, trabalhou-se com a técnica de entrevista, mediante um roteiro e, na caracterização sociodemográfica e ocupacional, adotou-se um instrumento estruturado. As entrevistas foram realizadas na própria unidade e gravadas após a autorização do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CEP/UERJ nº 2.509.816 –, pela Secretaria Municipal de Saúde – CEP/SMS-RJ nº 2.668.601–, e pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após a transcrição dos depoimentos na íntegra, aplicou-se a técnica de análise de conteúdo temática, cujos resultados foram discutidos à luz da psicodinâmica do trabalho. Sobre os tipos de violência, identificou-se, principalmente a psicológica perpetrada pelos usuários, através de agressão verbal, intimidações e ameaças, além da violência no território devido à exposição dos trabalhadores a tiroteios, tráfico de drogas e assaltos. Acerca das repercussões da violência para a saúde dos trabalhadores, identificou-se o sofrimento psíquico através das queixas de medo, insegurança, estresse, nervosismo e tensão que, além de repercutirem na saúde dos trabalhadores, podem levar à insatisfação, desmotivação e, até mesmo, à desistência do trabalho como estratégia de manutenção da saúde. Frente à violência, os trabalhadores elaboram estratégias de defesa como o silêncio, a resignação, a banalização e o modus operandi mediante utilização de dispositivo de acesso seguro. Além das estratégias referidas, houve sugestões de suporte psicoterápico aos trabalhadores, realização de grupos de autoajuda e adoção de medidas de segurança na unidade de atendimento. Concluiu-se que a violência relacionada ao trabalho é um risco psicossocial que afeta a saúde dos trabalhadores, cabendo à organização do trabalho, em conjunto com esses profissionais, a elaboração de medidas que proporcionem a visibilidade dessa problemática, bem como estratégias de prevenção e enfrentamento coletivo. Ratifica-se a importância do apoio psicoterápico aos trabalhadores vítimas de violência e o fortalecimento dos fatores de proteção. Recomenda-se a continuidade de estudos desta natureza envolvendo outras unidades e um maior número de participantes, de modo a proporcionar maior visibilidade à violência que afeta a saúde dos trabalhadores e a qualidade das atividades de cunho assistencial e educativo à população local.
The present study has as its object the “violence related to the work of the health team of the Family Health Strategy (FHS) and its implications for the health of employees”.

The objectives of the study were:

to identify the types of work-related violence in the FHS in the vision of health workers; describe the effects of work-related violence to workers' health and to analyze the coping strategies adopted by workers. Qualitative study of descriptive and exploratory type. The study field was a unit of FHS at the programmatic area 3.2, located in the city of Rio de Janeiro. Twenty-seven workers participated in the study: 13 community health agents, 2 oral health assistants, 3 nurses, 4 doctors, 4 nursing technicians, 1 dental health technician. In the collection of testimonies, we worked with the interview technique, using a script, and in order to analyze the demographic and occupational profiling a structured instrument was adopted. The interviews were conducted in the unit itself and recorded after the authorization for the study by the Research Ethics Committee of the Rio de Janeiro State University – CEP/UERJ nº 2.509.816 – and by the Municipal Health Secretariat – CEP/SMS- RJ n. 2.668.601–, and after signature of the informed consent (TFCC). After the transcription of the testimonies in its entirety, the technique of thematic content analysis was applied, the results of which were discussed in the light of the psychodynamics of work. Regarding the types of violence, the main one identified was the psychological violence perpetrated by users through verbal aggression, intimidation and threats and territorial violence due to the workers’ exposure to drive-by shootings, drug trafficking and robberies. With respect to the repercussions of violence for the workers’ health, psychic suffering was identified through their complaints of fear, insecurity, stress, nervousness and tension which, in addition to an impact on the workers’ health, may lead to dissatisfaction, discouragement and even withdrawal from work as a health maintenance strategy. Faced with the violence, the workers develop defense strategies such as silence, resignation, trivialization and the modus operandi using secure access device. In addition to the mentioned strategies there were suggestions of psychotherapeutic support to workers, promotion of self-help groups, and adoption of security measures in the care unit. It was concluded that violence related to work is a psychosocial risk that affects the workers’ health, and that the organization of work, in conjunction with these professionals, shall draw up measures which provide visibility of this issue, as well as develop prevention and coping strategies. The study verifies the importance of psychotherapeutic support to workers who are victims of violence and the strengthening of protection factors. It is recommended the continuation of studies of this nature involving other units and a greater number of participants in order to provide greater visibility to the violence that affects the workers’ health as well as the quality of assistance and education measures provided to the local population.

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