Comportamentos alimentares, ingestão de nutrientes e qualidade da dieta associados à duração do sono em adolescentes: estudo de base populacional
Eating behaviors, nutrients intake and diet quality associated with sleep duration in adolescents a population-based study

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Mestre. Leader: Fisberg, Regina Mara

Introdução:

É bem reconhecido que a ingestão de alimentos e o sono exibem padrões circadianos e distúrbios desses ritmos podem levar a problemas de saúde. Diversos estudos observacionais com adolescentes demonstraram tempo de sono abaixo do recomendado para a faixa etária, maior tempo dispendido frente a comportamentos sedentários, baixa ingestão de frutas e hortaliças, maior consumo de alimentos com alto teor de açúcares e gorduras e refeições não fracionadas.

Objetivo:

Descrever os comportamentos alimentares sob a perspectiva da crononutrição, a ingestão de nutrientes e a qualidade da dieta em adolescentes e investigar suas associações com a duração do sono autorreferida.

Métodos:

Foram utilizados dados provenientes do estudo transversal de base populacional - Inquéritos de Saúde e Alimentação - 2015 (ISA-Capital) com amostra de 480 adolescentes (12 a 19 anos) residentes do município de São Paulo. Dados do consumo alimentar foram obtidos por um Recordatório Alimentar de 24 horas (R24h) e a qualidade da dieta foi avaliada a partir do Índice de Qualidade da Dieta Revisado (IQD-R). A informação sobre a duração do sono foi coletada junto do R24h por meio da pergunta "Quantas horas de sono o(a) sr(a) dormiu ontem?" e categorizado em <8h (curto), 8-10h (adequado) e >10h (longo). Sob a perspectiva da crononutrição, os comportamentos alimentares avaliados foram a frequência alimentar, período de alimentação, intervalo entre as refeições e ingestão de energia e nutrientes por refeição e pelo período de 24 horas. As análises foram realizadas no programa Stata 13.0 e a associação do tempo de sono com as covariáveis dietéticas foram testadas por múltiplos modelos de regressão linear, logística e de Poisson. O nível de significância considerado foi de 5%.

Resultados:

Dos adolescentes avaliados, 31% apresentam duração do sono abaixo do recomendado, com comportamentos alimentares caracterizados por menor probabilidade de ingerir as três refeições principais (59%), maior frequência alimentar pela manhã (1,4), alta contribuição de energia (14%), açúcares total (8%) e adicionado (3%) e carboidratos (8%) nos lanches e maior ingestão de açúcar adicionado no período de 24 horas, comparados aos indivíduos que possuem sono adequado ou longo. Além disso, a qualidade da dieta também é afetada, com pontuação mais baixa do IQD-R (53.6) para os indivíduos que dormem menos. Já os adolescentes com sono longo apresentaram maior ingestão energética no período da tarde (51%), maior número de lanches por dia (2,2) e menor período de alimentação (9,8h).

Conclusão:

A associação entre duração do sono e comportamentos alimentares, ingestão de nutrientes e qualidade da dieta em adolescentes sinalizam a relevância de considerar a relação entre sono e dieta como alvo de políticas públicas de saúde e em estratégias de mudança de comportamento, visando à prevenção do desalinhamento circadiano e consequente aumento do risco de obesidade e outras condições metabólicas.

Introduction:

It is well recognized that food intake and sleep exhibit circadian patterns and disturbances of these rhythms can lead to health problems. Several observational studies with adolescents have shown less than recommended sleep time for the age group, longer time spent in sedentary activities, low intake of fruits and vegetables, higher consumption of foods with sugar and fat content and unfractionated meals.

Objective:

To describe the eating behaviors from a chrono-nutrition perspective, nutrients intake and diet quality among adolescents and investigate their associations with self-reported sleep duration.

Methods:

Data were collected from the 2015 Health Survey of São Paulo (ISA-Capital) population-based cross-sectional study of a sample of 480 adolescents (12 to 19 years old) living in the city of São Paulo. Food intake data were obtained from a 24h dietary recall (R24h) and diet quality was assessed by Brazilian Healthy Eating Index - Revised (BHEI-R). The information about sleep duration was collected with the R24h through the question "How many hours of sleep did you get last night?" and was categorized as <8h (short), 8-10h (adequate) and >10h (long). In the perspective of chrono-nutrition, the assessed eating behaviors was the eating frequency, eating period, time-interval between eating occasions and distribution of energy and macronutrients per eating occasion and over the 24-hour period. The analyzes were performed in the Stata 13.0 program and the association of sleep duration with dietary variables was tested by multiple linear, logistic and Poisson regression models. The significance level considered was 5%.

Results:

Of the adolescents evaluated, 31% presented sleep duration below the recommended level, with eating behaviors characterized by less probability of consuming the three main meals (59%), large eating frequency in the morning (1,4), high contribution of energy (14%), total sugar (8%) and added sugar (3%) and carbohydrates (8%) from snacks and the largest 24h intakes of added sugar, compared to individuals with adequate or long sleep duration. In addition, diet quality was also affected, with lower BHEI-R score (53.6) for individuals who sleep less. Already, the long sleepers had higher contribution of energy in the afternoon (51%), larger number of snacks per day (2,2) and shorter eating period (9,8h).

Conclusion:

The association between sleep duration and eating behaviors, nutrients intake and diet quality among adolescents signalizes the relevance to consider the relation between sleep and diet as a target to public health policies and in behavior change strategies, aiming prevention of the circadian misalignment and consequently increased obesity risk and other metabolic conditions.

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