Leishmaniose visceral americana reemergente no estado do Rio de Janeiro
Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas to obtain the academic title of Doutor. Leader: Figueiredo, Fabiano Borges
A leishmaniose visceral americana (LVA) é considerada uma das principais parasitoses reemergentes no Brasil e no mundo. No estado do Rio de Janeiro, casos de leishmaniose visceral canina (LVC) e humana foram recentemente notificados em regiões outrora indenes para essa doença. Tal fato gera preocupação já que, além de seu difícil controle o estabelecimento de focos endêmicos de transmissão tem sido precedido de surtos semelhantes a estes em muitas regiões do país. O presente estudo tem como objetivo investigar a prevalência da LVC em duas regiões de recente introdução da doença no estado do Rio de Janeiro, através de inquérito sorológico canino, utilizando o teste imunocromatográfico rápido em dupla plataforma (DPP®) e o ensaio imunoenzimático (EIE).
Os resultados são apresentados em dois manuscritos:
o primeiro avalia a associação entre características ambientais obtidas pelo sensoriamento remoto e a prevalência de LVC no Bairro do Jacaré, Niterói; e o segundo avalia a distribuição espacial e caracterização dos perfis de prevalência da LVC no município de Barra Mansa, ambos no estado do Rio de Janeiro, Brasil. Foram avaliados 97 cães no bairro do Jacaré, Niterói e 701 em Barra Mansa, com soroprevalências de 21.6% e 11,5%, respectivamente
No Jacaré, cães residentes em áreas com maior cobertura de vegetação esparsa apresentaram prevalência da infecção por L. infantum cinco vezes maior do que aqueles que residiam em áreas menos vegetadas (OR=5.72; 1.47–22.20). Por outro lado, áreas mais urbanizadas caracterizadas como comerciais ou residenciais carentes, identificadas pelo sensoriamento remoto como aquelas com alta densidade de estruturas cinza estiveram associadas à menor ocorrência da LVC (OR=0.09; 0.01–0.92). A maior prevalência de infecção em cães convivendo com outros animais silvestres e em áreas com maior cobertura vegetal, associada com menor prevalência em áreas urbanizadas, indica um padrão rural de transmissão da LVC nesta área. Em Barra Mansa Foi realizado o método da classificação e regressão (Classification and Regression Trees - CART) para a análise dos dados para identificação dos perfis de prevalência. Dos 12 perfis de risco identificados, 62,5% dos cães positivos estão incluídos no subconjunto com os perfis de risco 8, 9, 10, 11 e 12, distribuídos em 124 domicílios. A maior prevalência de infecção em cães no município de Barra Mansa ocorreu em áreas com maior percentual de telhado de cerâmica e com alguma cobertura vegetal, indicando um padrão de transmissão da LVC mais urbanizado nessa área, diferente dos resultados encontrados no Jacaré, Niterói. Estes resultados mostram a existência de um alto grau de complexidade envolvido no risco de infecção por L. infantum e apontam a necessidade de investigar os fatores relacionados à infecção em cada área. A utilização de ferramentas como o SIG e o sensoriamento remoto se mostrou útil para identificar características ambientais que podem ser utilizadas para definir áreas de maior risco para a LVC. (AU)