Fatores de risco para desidratação na mucosa oral e infecções oportunistas orais em pacientes adultos e idosos internados em UTI

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Odontologia to obtain the academic title of Mestre. Leader: Corrêa, Luciana

A cavidade oral constitui um reservatório de microrganismos patogênicos que podem impactar negativamente nas condições sistêmicas de pacientes internados na UTI. Alterações salivares e modificações da microbiota oral podem expor o paciente a infecções nosocomiais, as quais podem ter alta morbidade e mortalidade. Apesar do conhecimento da existência dessas alterações, não existem dados conclusivos acerca da frequência de alterações salivares e de lesões infecciosas oportunistas orais em pacientes internados em UTI, particularmente de pacientes idosos. O impacto de cuidados orais padronizados no ambiente da UTI também é pouco conhecido no tocante a essas condições na cavidade oral. O objetivo do presente trabalho foi detectar a frequência e os fatores de risco para infecções oportunistas não-odontogênicas e para desidratação na cavidade oral em pacientes adultos e idosos internados em UTI, antes e após a instauração de cuidados orais padronizados. Para tanto, foram coletadas retrospectivamente informações de prontuários de 254 pacientes adultos e idosos, internados na UTI Geral do Hospital Vila Lobos, São Paulo, SP, referentes a: motivo de internação na UTI, índice de comorbidade, medicamentos em uso, desenvolvimento de sepse durante a internação, grau de consciência do paciente e duração da internação.

Foram também coletadas informações quanto às condições da cavidade oral no tocante a:

lesões orais sugestivas de infecções bacterianas, fúngicas ou virais oportunistas, aspecto clínico de boca seca (desidratação da mucosa oral), dados acerca da existência ou não de função de deglutição, e uso de próteses na UTI. Os prontuários selecionados foram referentes a dois períodos distintos do setor da UTI, um no qual não havia a instituição de protocolos orais padronizados e realizados por cirurgião-dentista (n=127), e outro em que esses protocolos já tinham sido instituídos (n=127). Os prontuários selecionados foram principalmente de pacientes idosos (mediana de 79 anos de idade), internados principalmente devido a doenças do trato respiratório, com alto índice de morbidade (mediana igual a 5 do índice de Charlson) e com alta frequência de polifármacia (72,8%). Esses pacientes exibiram uma frequência de 58,3% e 74,0% (p=0.024) de desidratação na mucosa oral, respectivamente para os períodos sem e com protocolos orais padronizados. Os fatores associados à desidratação na mucosa oral foram idade maior que 79 anos, índice de Charlson maior que 5, o fato de o paciente não estar contactuante na UTI, ter sido internado por distúrbios cardiocirculatórios e estar sob medicação com anti-hipertensivos. Em 28,3% dos pacientes do período sem cuidados orais padronizados e em 7,87% dos pacientes nos quais foram realizados esses cuidados, foram detectadas lesões compatíveis com infecções fúngicas e virais, havendo diferenças significativas entre os dois períodos (p<0.001), e redução do risco das mesmas em 19,9% após a instituição dos cuidados orais. Os fatores de risco para as infecções oportunistas foram internação devido a distúrbios cardiocirculatórios e estar sob uso de seis ou mais medicações. Concluiu-se que os fatores de risco para a desidratação na mucosa oral e para infecções oportunistas estão mais relacionados a uso de medicamentos e a condições de morbidade do paciente, do que propriamente dependentes da existência ou não de próteses dentárias e da função de deglutição. Além disso, o protocolo de cuidados orais padronizados reduziu significativamente o risco de infecções fúngicas na cavidade oral, em um contexto em que predominaram alta comorbidade e pacientes idosos internados por longo tempo na UTI.

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