Objetivos. A avaliação da composição corporal aliada à avaliação do estado nutricional vem assumindo importância crescente devido ao paradoxo que afeta as sociedades modernas, onde se encontram prevalências de desnutrição ao lado de elevadas prevalências de sobrepeso e obesidade, decorrente principalmente da mudança nos padrões alimentares nessas sociedades. Este estudo foi delineado com o objetivo de verificar o estado nutricional associado a composição corporal de crianças de diferentes condições sociais. Método. Foi conduzido um estudo transversal com 216 crianças de 4 a 6 anos matriculadas em creches municipais e escola particular do município de Teresina-Piauí. Foram aferidas as medidas de peso, estatura, estatura tronco-cefálica, pregas cutâneas do tríceps e subescapular e circunferências da cabeça, tórax, abdômen e braço, além da bioimpedância elétrica (BIA). Foram calculados medidas e índices derivados, como as medidas de proporção corporal, a área muscular do braço (AMB), a área adiposa do braço (AAB), a massa de gordura (MG), e a água corporal total (ACT). A avaliação do estado nutricional foi feita utilizando o escore Z para os índices estatura para idade (E/I) e peso para estatura (P/E) em relação ao padrão de referência do NCHS (1977) e o escore Z do IMC em relação ao padrão de referência do NCHS (2000). Os efeitos das medidas antropométricas e de composição corporal das crianças sobre a condição socioeconômica foi estimado a partir de análise de regressão linear múltipla. A correlação entre os índices antropométricos e as medidas de composição corporal foi determinada pelo coeficiente de correlação linear de Pearson. Resultados. As proporções de desnutrição, encontradas apenas nas crianças com baixa condição sócio-econômica, foram de 1,6%, 4,9%, 4,9% e 9,8% usando os índices de P/E, P/I, E/I e IMC, respectivamente. Elevada proporção de crianças com sobrepeso e obesidade foi observada, independentemente da condição sócio-econômica, sendo mais marcante entre as crianças com condição sócio-econômica alta, onde foi observado 18,1% de sob repeso e 13,8% de obesidade, de acordo com o índice P/E e de 25,5% de sobrepeso e 8,5% de obesidade segundo o IMC. O déficit nutricional das crianças de baixa condição socioeconômica é mais evidente em relação a estatura tronco-cefálica. O P/I teve melhor correlação com a massa livre de gordura nas crianças de condição socioeconômica baixa, enquanto que o P/I e IMC tiveram melhor correlação com a gordura corporal nas crianças de condição socioeconômica alta. Conclusão. A composição corporal das crianças difere de acordo com as condições sócio-econômicas, indicando estados de reservas protéicas e energéticas melhores para as crianças com melhores condições sócio-econômicas.