Publication year: 2019
OBJETIVO:
Descrever a forma clínica e evolução de pacientes com doença do neurônio motor (DNM) no contexto da infecção pelo HIV, avaliando fatores clínicos, imunológicos, virológicos e expressão de Herv-K (retrovírus endógeno humano da família k) na casuística estudada. Avaliar a mudança no curso clínico da doença do neurônio motor nos casos com necessidade de intervenção padrão, buscando uma TARV (terapia antirretroviral) com alta penetrância em sistema nervoso central e baixa toxicidade.
MÉTODOS:
Estudo de série de casos, numa coorte de indivíduos soropositivos, em acompanhamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER) - São Paulo/SP, no período de julho de 2018 a julho de 2019. Identificou-se seis pessoas portadoras do HIV e diagnosticadas com doença do neurônio motor, com idade de dezoito anos ou mais, em acompanhamento ambulatorial. As variáveis sociodemográficas, clínicas e resultados de exames laboratoriais e complementares foram obtidos por meio de questionários próprios padronizados preenchidos com informações do prontuário do paciente. A pesquisa de Herv-K no soro foi realizada após extração do RNA com Trizol. A avaliação cognitiva foi realizada através da bateria de avaliação neuropsicológica padronizada do serviço para investigação de HAND (Distúrbios neurocognitivos associados ao HIV) e a avaliação da funcionalidade foi realizado através da Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale (ALSFRS).
RESULTADOS:
Foram identificados inicialmente seis pacientes. Três evoluíram a óbito em menos de três meses de acompanhamento. Três pacientes conseguiram realizar o protocolo de um ano de seguimento completo. Dentre os pacientes que completaram o protocolo, um deles apresentava a forma clássica da ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) e dois apresentavam a forma localizada (Flail arm e Flail Leg). Em todos os casos pesquisados, a carga viral plasmática do Herv-K foi indetectável. Em relação aos outros três casos que evoluíram a óbito rapidamente, todos apresentavam a forma clássica da ELA. Nos dois pacientes com a forma localizada houve estabilização do quadro neurológico após modificação da TARV. No caso com Flail arm, foi possível a intervenção terapêutica, com otimização do esquema da TARV para melhor penetração no SNC, e neste caso observou-se uma estabilização da doença neurológica desde a modificação da terapia. No caso com Flail leg, houve estabilização do quadro neurológico após a boa adesão à terapia antirretroviral e a terapia guiada pela genotipagem viral. Ambos os pacientes com as formas localizadas apresentavam a forma leve da demência do HIV e depressão menor.
CONCLUSÕES:
Observou-se na amostra estudada que completou o protocolo de seguimento que houve uma maior prevalência de casos com a forma localizada, pesquisa do Herv-k negativa, com mudança na evolução clínica com o uso da TARV, e com avaliação neuropsicológica evidenciando sintomas cognitivos de demência pelo HIV e depressão menor, além da não adesão ao tratamento logo após o diagnóstico da infecção pelo HIV.