Avaliação quantitativa do monitoramento da resistência a inseticidas em populações brasileiras de Aedes aegypti: uma análise temporal da dinâmica da resistência
Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Mestre. Leader: Valle, Denise
Aedes aegypti é o vetor de uma série de arboviroses que atualmente circulam pelo Brasil, como dengue, Zika e chikungunya. Na ausência de vacinas ou de medicamentos específicos, a redução da densidade das populações de A. aegypti é a principal ferramenta de controle destes agravos. Ainda hoje, o controle químico é bastante confundido com o controle do vetor, ou seja, inseticidas continuam sendo amplamente aplicados em saúde pública. No Brasil, os organofosforados (OP) têm sido usados contra A. aegypti por anos, desde 1967, e os piretroides (PY) desde 2000. Os compostos mais amplamente utilizados em âmbito nacional têm sido o larvicida temephos (OP) e o adulticida deltametrina (PY). Em 2009, os Reguladores do Desenvolvimento de Insetos (IGR) e o OP malathion foram introduzidos para utilização, respectivamente, no controle de larvas e de adultos. O uso intenso de inseticidas pode selecionar indivíduos resistentes nas populações naturais do vetor, eliminando os espécimes suscetíveis e reduzindo a variabilidade das populações. No presente estudo, apresentamos: (1) uma revisão sistemática, baseada na bibliografia disponível até julho de 2017 e em dados inéditos de nossa equipe, do status da resistência a temephos e deltametrina de populações brasileiras de A. aegypti; estes dados foram avaliados por Região e comparados com a incidência de dengue por município e com o fornecimento de inseticidades aos estados; (2) o perfil de suscetibilidade de 12 populações do vetor frente ao IGR diflubenzuron, um inibidor de síntese de quitina, após sua introdução no país e (3) o uso de ferramentas matemáticas para procurar correlações entre resistência a inseticidas com os mecanismos avaliados e potencialmente, com a incidência de dengue
Ensaios dose-resposta detectaram altos níveis de resistência para o temephos e para deltametrina embora todas as amostras avaliadas tenham sido suscetíveis ao diflubenzuron. Diferentes padrões regionais de incidência de dengue foram identificados e sua correlação com a resistência a inseticidas foi variável. Os dados também permitiram comparar duas metodologias qualitativas de avaliação da resistência de adultos a inseticidas, ‘CDC’ (garrafas impregnadas) e ‘WHO’ (papéis impregnados), sugerindo que a primeira tende a induzir maiores taxas de mortalidade. A resistência metabólica sempre foi maior em fêmeas adultas do que em larvas; glutationa-S-transferases e esterases foram as principais classes enzimáticas alteradas. Em algumas populações do vetor, no caso de resistência a PY, foi possível identificar a opção por resistência metabólica ou, alternativamente, por alteração do sitio-alvo. Regressão de Poisson identificou relação significativa entre resistência e taxas de incidência de dengue, sugerindo impacto da intensificação do controle químico nos perfis de populações do vetor. Regressão logística detectou associação entre o sitio alvo de PY, o Nav, e resistência a deltametrina; foram ainda detectadas alterações de classes específicas de enzimas detoxificantes e resistência a deltametrina, mas não a temephos. Para compreender o perfil da contribuição das diferentes variáveis disponíveis sobre a resistência, iniciamos a decomposição de dados por análise de Componentes Principais (PCA). O histórico do status da resistência a temephos e deltametrina em populações brasileiras de A. aegypti revelou a disseminação da resistência aos principais inseticidas utilizados pelo Programa Nacional de Controle da Dengue, mostrando o caráter multifatorial da resistência no país. (AU)