Análise do envolvimento do interferon tipo I na imunopatogênese do eritema nodoso hanseniano
Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Mestre. Leader: Pessolani, Maria Cristina Vidal
A forma multibacilar da hanseníase pode apresentar manifestações inflamatórias agudas, conhecidas como episódios reacionais. Um desses episódios é o eritema nodoso hanseniano (ENH), considerado o quadro clínico mais grave da hanseníase, sendo caracterizado pelo aparecimento abrupto de múltiplas lesões novas, sintomas sistêmicos e agravamento da neuropatia. A talidomida é o fármaco de escolha para o tratamento e tem efeito benéfico num curto período de tempo. Dados recentes do nosso grupo demonstram uma maior expressão de TLR-9, tanto nas lesões como no sangue de pacientes ENH. Uma consequência importante da ativação da via de TLR-9 é a produção de IFN tipo I, especialmente o IFN-α. Essa citocina tem sido implicada na patogênese de várias doenças inflamatórias crônicas com intercorrências agudas, como a psoríase e o lúpus eritematoso sistêmico, contribuindo para uma desregulação da imunidade inata e adquirida e amplificação do processo inflamatório. Baseado nos dados acima citados, este estudo teve como objetivo analizar a participação de IFN-I na patogênese do ENH. Para alcançar este objetivo, amostras de sangue e lesões de pele de pacientes com as formas multibacilares sem reação (grupo LL/BL) e com diagnóstico da reação antes de iniciar o tratamento com talidomida (grupo ENH D0) foram coletadas. Também analisamos amostras clínicas de pacientes ENH após 7 dias de tratamento com talidomida (grupo ENH D7) para avaliar o impacto deste medicamento na via de IFN-I. Foram realizados ensaios de imunofluorescência e PCR em tempo real para investigar, respectivamente, a presença de IFN-α e a expressão de genes de assinatura de IFN-I (EIF2AK2, MX1 e IFIT-1).
Além disso, os níveis da proteína MX1 na lesão cutânea foram analisados através de western blotting. Os resultados de expressão gênica indicam níveis mais elevados de RNAm de EIF2AK2 tanto na lesão cutânea como no sangue de pacientes ENH D0. Já no que se refere aos genes MX1 e IFIT-1 não houve diferença entre os grupos. O tratamento com a talidomida resultou na diminuição da expressão dos genes EIF2AK2 e MX1. Os níveis proteicos de MX1 se mostraram elevados nos pacientes LL/BL e ENH D0, com uma diminuição após o tratamento com a talidomida. Imagens de imunofluorescência sugerem a presença de um maior número de células produtoras de IFN-α nas lesões de pacientes ENH D0 quando comparadas a LL/BL, ocorrendo uma diminuição drástica após 7 dias de tratamento com talidomida. Finalmente, confirmamos que o IFN-α possui a capacidade de induzir a NETose em neutrófilos de indivíduos sadios. Em conjunto esses resultados sugerem o envolvimento do IFN do tipo I na patogênese do ENH, abrindo perspectivas para a identificação de biomarcadores para o diagnóstico precoce do ENH e novos alvos para melhor conduta terapêutica deste episodio reacional. (AU)