Infecções hospitalares em pacientes cardiopatas sob procedimento hemodialítico em unidade de terapia intensiva
Nosocomial infections in cardiac patients under hemodialysis procedure in an intensive care unit

Publication year: 2009
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo - USP to obtain the academic title of Mestre. Leader: Turrini, Ruth Natalia Teresa

Introdução:

Os procedimentos hemodialíticos para a correção da lesão renal têm a infecção como principal complicação. Em pacientes com lesão renal crônica (LRC), submetidos à hemodiálise em centros especializados, a infecção da corrente sanguínea (ICS) comprovadamente é a mais importante. Para pacientes críticos, com lesão renal aguda (LRA), internados em unidades de terapia intensiva (UTI), a literatura é escassa. Nesta população, as infecções relacionadas ao procedimento são de difícil avaliação devido à gravidade do paciente e aos inúmeros procedimentos invasivos a que são submetidos.

Objetivos:

analisar as infecções hospitalares em cardiopatas com LRA ou LRC agudizada submetidos a procedimento hemodialítico, em uma UTI, verificar se a ICS é a principal topografia infecciosa e identificar fatores de risco para o desenvolvimento de ICS associados ao procedimento hemodialítico.

Métodos:

Estudo de coorte prospectivo (12 meses), envolvendo 101 pacientes internados em uma UTI do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, submetidos a procedimento hemodialítico por meio do cateter temporário, sem cuff, para hemodiálise. Utilizou-se o critério proposto pelos Centers for Disease Control and Prevention para definição de ICS e das demais infecções hospitalares. Os dados coletados foram digitados no programa Statistical Package for Social Sciences e o nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de 5%.Aplicou-se o teste de Mann-Whitney para comparar os pacientes com e sem ICS, o teste do Qui-quadrado para verificar associações da ICS com fatores de risco relacionados ao procedimento e a Distribuição de Poisson para a comparação das taxas de infecção entre os pacientes do estudo e a população geral da UTI.

Resultados:

Não houve diferença entre os grupos com e sem ICS em relação a sexo, idade, tempo ) de internação, diabetes, hipertensão, presença de outro cateter central, tipo de lesão renal, gravidade e infecção no início do procedimento. A ICS foi a topografia mais frequente, acometendo 13 (12,9%) pacientes, com densidade de incidência (DI) de 11,4 por mil pacientes-dia. O principal microrganismo isolado foi o Staphylococcus aureus resistente à oxacilina. Não foi encontrada associação entre ICS e tipo de procedimento, anticoagulação, solução preparada na beira do leito, número e tempo de conexão à máquina, embora a maior proporção de pacientes com ICS tenha sido submetida a mais de quatro conexões e tempo de conexão à máquina > 48 horas. As DI de ICS, pneumonia, infecção urinária e traqueobronquite foram maiores nos pacientes submetidos a procedimento hemodialítico quando comparados aos outros pacientes da UTI, embora a diferença não tenha sido significativa.

Conclusão:

A ICS foi a topografia mais frequente nesta população e não esteve associada ao procedimento hemodialítico. O pequeno número de pacientes com ICS pode ter comprometido aidentificação de fatores de risco associados ao procedimento. Os resultados encontrados indicam que as principais estratégias para prevenção da ICS nesta população continuam a ser aquelas direcionadas à qualidade do cuidado com o acesso e com o procedimento.

Introduction:

Infection is a major concern when using hemodialysis procedures for the healing of the renal failure. Bloodstream infection (BSI) is the most important infection among patients with chronic renal failure (CRF), who are undergoing hemodialysis in specialized centers. The literature that focuses on patients with acute renal failure (ARF) in intensive care units (ICU) is limited. Infections due to hemodialysis in this population are difficult to evaluate since the patients conditions often require undergoing several invasive procedures.

Objectives:

to analyze nosocomial infections in cardiac patients with ARF or acute CRF submitted to hemodialysis in an ICU, determine if BSI is the main infection and identify the risk factors to the BSI development associated with hemodialysis.

Methods:

This prospective cohort study of twelve months included 101 patients admitted to an ICU of the Heart Institute - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, who underwent hemodialysis through uncuffed, temporary central venous catheter. BSI was defined by Centers for Disease Control and Prevention criteria, as were other nosocomial infections. Collected data were analyzed by Statistical Package for Social Sciences program and 5% was the significance level adopted. The Mann-Whitney test was used to compare the patients with or without BSI, the Chi-square test to verify the associations between BSI and risk factors related to theprocedure and the Poisson Distribution to compare infection rates between patients of the study and the general population of the ICU.

Results:

There were no differences between the groups with or without BSI, regarding sex, age, length of stay, diabetes, hypertension, presence of another central venous catheter, type of renal failure, severity and infection at the beginning of the procedure. BSI was the most frequent infection, occurring in 13 (12.9%) of the patients, with rate of 11.4/1,000 patient-days. The most common pathogen was methicilin-resistant Staphylococcus aureus. There were no associations between BSI and the type of procedure, anticoagulation and solution prepared next to the bed. Furthermore, there were no associations between BSI and the numbers and times of connection to the machine, although the highest proportion of patients with BSI had submitted to more than four connections and with time of connection to the machine higher than 48 hours. The rate of BSI, pneumonia, urinary tract infection and tracheobronchitis were higher in the patients who underwent hemodialysis when compared to other patients in the ICU, although the difference was not statistically significant.

Conclusion:

BSI was the most frequent infection in this population and was not associated with hemodialysis. The small number of patients with BSI may have compromised the identification of risk factors associated with the procedure. The results indicate that the mostimportant strategies to prevent BSI in this population are still related to the care with the venous access and the hemodialysis.

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