Avaliação da mucosa oral dos pacientes submetidos ao transplante de células tronco hematopoéticas na vigilância de risco de neoplasias secundárias
Publication year: 2017
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva to obtain the academic title of Mestre. Leader: Eliana Saul Furquim Werneck Abdelhay
O Transplante de células tronco hematopoéticas(TCTH) é uma terapia curativa indicada para doenças
hematológicas malignas e não malignas e alguns tumores sólidos que não responderam ao tratamento
convencional. A sobrevida no pós-TCTH vem aumentando e com isso aumenta a atenção para as complicações tardias. Essas complicações podem estar relacionadas a vários fatores, dentre eles a doença enxerto contra hospedeiro(DECH), que se destaca por ser a maior complicação do TCTH alogênico. A DECH oral está presente em 50 a 90% dos pacientes e a cavidade oral pode ser o primeiro ou o único sítio de manifestação. O exame minucioso da cavidade oral deve ser realizado para diagnóstico precoce da DECH e de neoplasias sólidas secundárias, em especial o carcinoma de células escamosas. Sendo assim, o objetivo de nosso estudo foi realizar a avaliação na cavidade oral de nossos pacientes, diagnosticando o aparecimento de lesões, correlacionando com o infiltrado linfocitário, infecções virais e outros fatores de risco. Foram avaliados 75 pacientes, onde 3 foram excluídos por falhas na inclusão, totalizando o acompanhamento de 72 pacientes. Desses, a maioria foi do sexo masculino, brancos e a mediana de idade foi de 39 anos. Entre os diagnósticos, os mais prevalentes foram LMA, seguido de LLA e LMC. Em 86% dos TCTH foram de doadores relacionados, sendo a medula óssea a fonte de células mais utilizada em 79% dos pacientes. O regime de condicionamento mais utilizado foi a associação entre ciclofosfamida e bussulfano, bem como o tratamento profilático para DECH mais utilizado foi a associação de ciclosporina com metrotexate e os imunossupressores mais utilizados foram a ciclosporina e prednisona. Dos 72 pacientes, somente 5 não desenvolveram DECH, sendo que a maioria dos pacientes apresentaram DECH em 4 ou mais órgãos. A pele foi o órgão mais acometido (89%), seguido de cavidade oral (77%) e fígado (71%).
Biópsias e/ou citologias foram realizadas em 16 pacientes com um total de 31 amostras. Dentre as alterações
histopatológicas, um paciente apresentou papiloma escamoso, um apresentou papiloma vírus humano, dois
apresentaram hiperplasia epitelial e hipercertatose, dois apresentaram carcinoma de células escamosas e 7
apresentaram diagnóstico compatível com DECH. Foi realizada a análise das subpopulações linfocitárias
infiltrantes e infecções virais. Em todas as amostras CD4 foi mais elevada do que FOXP3, o que nos mostra que as células T reguladoras se encontram em número mais baixo nesses pacientes, sendo que em muitas amostras essa relação CD4/FOXP3 foi maior do que 10:01. Algumas amostras representaram positividade para CMV, VZV, EBV, HHV6 e HHV7, que se explica pela DECH ser o principal fator a retardar a recuperação
imunológica e favorecer as infecções. Os dois pacientes com CEC tinham em comum ser do sexo masculino,
lesão localizada em língua e apresentaram DECH em vários órgãos o que mostrou imunossupressão por período prolongado. O paciente que foi possível a realização dos testes, apresentou positividade para todos os vírus testados e a relação CD4/FOXP3 alta. Diante dos resultados encontrados, pode-se concluir que nossos pacientes tiveram uma taxa de incidência de DECH e de neoplasias secundárias orais maiores que o descrito em literatura e que pode estar correlacionado diretamente com o tempo de imunossupressão que esses pacientes foram submetidos por conta do acometimento da DECH.