Papel do vírus Epstein-Barr e de fatores genéticos nos perfis imunes do microambiente tumoral no linfoma de Hodgkin clássico pediátrico

Publication year: 2017
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva to obtain the academic title of Doutor. Leader: Rocio Hassan

O linfoma de Hodgkin clássico (LHc) é caracterizado por apresentar 0,5-1% de células neoplásicas (Hodgkin e Reed-Sternberg) com alta dependência do microambiente tumoral (MAT) formado por células inflamatórias e estromais. Este linfoma encontra-se associado ao vírus Epstein-Barr (EBV) em ~40-50% dos casos em nossa região. No LHc pediátrico EBV+, o MAT apresenta um perfil imune pró-inflamatório (células T citotóxicas/Th1), que poderia estar sendo inibido por mecanismos supressores pró-tumorais. Nosso objetivo foi investigar o MAT do LHc, o papel potencial do EBV e o papel do background genético individual na modulação do MAT. Por isto, foi proposto avaliar perfis de expressão gênica relacionados a potenciais mecanismos supressores e variantes genéticas associadas à resposta imune local, definida pela quantificação de subpopulações imunes mediante imunohistoquímica quantitativa, em linfonodos de pacientes pediátricos com LHc EBV+ e EBV-. Análises dos polimorfismos genéticos nas posições -1082/-592 do gene IL10 e +49/CT60 do gene CTLA4. Expressão de genes associados à resposta imune por RT-qPCR [perfil pro-inflamatório: CXCL10, IFNG e STAT1; supressor: IL10 e STAT6; checkpoint imune: CTLA4 (isoformas flCTLA4, completa e sCTLA4, solúvel), PDCD1, PD1L/CD274, HAVCR2/TIM3 e BTLA e; fatores de transcrição: EOMES e TBX21/TBET] foram analisados em relação às características clínicas-epidemiológicas, composição do MAT e resposta terapêutica. Análises bioinformáticas foram desenvolvidas na procura de uma assinatura relacionada à exaustão celular associada ao EBV. No gene IL10, genótipos -1082AA+AG foram associados a altos níveis de RNAm (P=0,014) e, os genótipos -1082GG/-592CC (baixa expressão) a um menor número de células MAF+ e haplótipo ATA (alta expressão) a um incremento de células MAF+ (P<0,05) no MAT. Pior sobrevida livre de progressão (SLP) preponderou nos pacientes com genótipos -1082AA+AG vs. GG, -592AA+AC vs. CC e no haplótipo ATA (P<0,05). No gene CTLA4, genótipos +49GG e CT60GG (baixo poder inibitório) foram associados a maior número de células citotóxicas (P<0,05). Pacientes com alta expressão de HAVCR2/TIM3, sCTLA4 e razões sCTLA4/flCTLA4>1,5 e EOMES/TBX21>1,5 apresentaram pior SLP (P<0,05). Alta expressão de IFNG e STAT1 e baixa de STAT6 foram identificadas nos casos EBV+ vs. EBV- (P<0,05). In silico, a presença do EBV foi associada a maior número de células citotóxicas e a menor número de células T CD4+ totais e subpopulações T CD4+ naïve e T reguladoras (P<0,05). Na potencial assinatura de exaustão específica do LHc, genes relacionados à ativação e inibição de células inflamatórias foram identificados (CD80, CD86, KLRB1, IL1RB2), já nos LHcEBV+ uma resposta antiviral foi identificada (FASLG, SLAMF7, GRZA, GRZK, CEACAM1). Com isto, estes resultados mostram que variantes genéticas regulam os níveis de expressão e composição do MAT, impactando no desfecho terapêutico; perfis moleculares/celulares distintos são identificados nos casos EBV+ vs. EBV- , mostrando que a presença do EBV está associada a uma resposta pró-inflamatória, porém poderia mediar um estado celular de exaustão via contato célula-célula; a identificação de mediadores de supressão, como variantes genéticas e expressão de IL10 e genes do checkpoint imune, sugerem mecanismos supressores e de exaustão imune que poderia, em parte, ser responsável pela resposta inflamatória não funcional.

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