Investigação sobre a eventual relação entre a alta prevalência de LCNC na vestibular e as características de altura e espessura do osso alveolar
Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Odontologia to obtain the academic title of Doutor. Leader: Meira, Josete Barbosa Cruz
Objetivos - Verificar, através da análise por elementos finitos, se a concentração de tensões no dente poderia explicar: (i) a alta prevalência de lesões cervicais não cariosas (LCNC) na face vestibular, devido à menor espessura da tábua óssea nesta região; (ii) o formato escalonado de LCNC, devido ao deslocamento do pico de tensão para apical em consequência da perda óssea progressiva. Complementarmente, foi avaliado o risco de reabsorções ósseas por sobrecarga mecânica em pacientes: (i) com espessura vestibular fina; (ii) com perda de altura alveolar. O risco de reabsorção foi considerado alto quando o pico de deformação no osso atingia valores acima de 3.000 ??. Método - Foi construído um modelo tridimensional controle (CTL) de um pré-molar superior e suas estruturas de suporte, sem perda óssea e com uma espessura vestibular de 1,6 mm. A partir do modelo controle, a simulação foi dividida em duas partes. Na parte A, foram projetadas três variações de espessura óssea vestibular: fina (EFN - 1,2 mm), grossa (EGR - 2,0 mm) e extra-grossa (EXG - 2,4 mm). Na parte B, foram simuladas quatro condições de perdas de altura alveolar: 15% (A15), 30% (A30), 45% (A45) e 60% (A60). Os materiais foram considerados elástico-lineares e isotrópicos. Foram simuladas duas condições de carga oclusal (200 N, 45°): para vestibular (V) e para palatina (P). Foram realizadas algumas análises complementares, variando a magnitude (500N) e direção da carga (85º) e a relação de rigidez entre osso trabecular e cortical (Q=0,3). Foi analisada a distribuição da máxima tensão principal (?1, correspondente à máxima tração, quando positiva) e da mínima tensão principal (?3, correspondente à máxima compressão, quando negativa) no dente. Também foi analisada a distribuição da deformação maior (?M) e da densidade de energia de deformação (?) no osso. Resultados - Em relação à estrutura dentária, os padrões de distribuição de tensões foram semelhantes para todos os modelos, com o pico de tensões na dentina, na altura da crista óssea. Os picos de tensões da face palatina foram maiores do que os picos da face vestibular. Apenas a altura do osso influenciou a tensão no dente, sendo que o modelo A60 apresentou tensões de tração que ultrapassaram a resistência à fratura da dentina (104 MPa). Em relação ao suporte ósseo, os modelos apresentaram um padrão semelhante de distribuição de deformações. Em todos os casos, o pico de deformação localizou-se na crista palatina. A variação da espessura vestibular não influenciou as deformações ósseas. No entanto, quanto maior foi a perda de altura alveolar, maior foi a deformação encontrada na crista óssea. Nas condições de maior rigidez óssea (Q=0,3), todos os modelos com perda de altura alveolar registraram picos de deformação óssea compatíveis com a janela de reabsorção por sobrecarga mecânica. Apenas o modelo controle apresentou o pico de deformação óssea inferior a este limiar. Conclusões - (1) A tábua vestibular fina não favorece a concentração de tensões na vestibular do dente, nem o aumento da deformação da própria tábua; portanto, não ajuda a explicar a maior prevalência de LCNC na face vestibular. (2) A concentração de tensões no dente parece ter um papel modulador e não protagonista na formação de LCNC, pois os locais de pico nem coincidem exatamente com os locais de início da LCNC na clínica e nem a intensidade ultrapassou a resistência à fratura da dentina. (3) O deslocamento do pico de tensão no dente com a perda progressiva de altura óssea pode explicar o formato escalonado de LCNC. (4) Mesmo com sequelas mínimas (15% de perda de altura), observou-se um risco de reabsorções ósseas adicionais por sobrecarga mecânica (5) O tratamento do paciente com perda óssea por doença periodontal não deve se limitar ao controle microbiológico. O equilíbrio biomecânico deve ser considerado na etapa de manutenção, para evitar perdas ósseas adicionais por sobrecarga mecânica.