Na Odontologia, apesar do conceito da mínima intervenção, uma proporção significativa de dentistas ainda intervém de maneira invasiva em lesões de cárie, clinicamente ou radiograficamente confinadas ao esmalte, ou até minimamente em dentina. Algumas lesões não francamente cavitadas apresentam um risco de progressão maior que lesões iniciais, merecendo atenção especial no controle de sua progressão. O objetivo desse trabalho foi investigar o risco de progressão de lesões de cárie moderada (ICDAS 3-4) e avaliar se o selamento pode ser uma alternativa as restaurações no controle de em superfícies oclusais de molares decíduos. Este volume apresenta um compilado de uma revisão sistemática e um ensaio clínico randomizado associado a uma avaliação econômica cujas redações foram orientados pelas recomendações dos guias PRISMA, CONSORT e CHEERS. Realizamos uma revisão sistemática, cuja pesquisa bibliográfica buscou avaliar o impacto das características clínicas e radiográficas das lesões de cárie na sua progressão em dentes decíduos. Assim, foi possível observar que lesões apresentando cavidades mesmo que clinicamente confinadas em esmalte ou sombra, apresentavam maior risco de progressão. Adicionalmente, um ensaio clínico randomizado de não inferioridade foi delineado, para avaliar a longevidade (não necessidade de reintervenções) do selamento de lesões de cárie moderada com cimento de ionômero de vidro como alternativa as restaurações com o mesmo material. Uma avaliação econômica foi associada a este ensaio clínico para avaliar a custo-efetividade da implementação desse tratamento alternativo. Uma perspectiva societal e um horizonte temporal de 2 anos. No estudo clínico, crianças entre 3 a 6 anos, que apresentaram superfícies oclusais classificadas como escores 3 ou 4 do ICDAS foram randomizadas. As crianças foram tratadas e reavaliados bianualmente por 24 meses por 2 examinadores treinados. O desfecho primário foi a necessidade de reintervenção nos dentes inicialmente tratados (falhas que demandassem a reparo, substituição dos selantes e restaurações, bem como progressão de lesões que demandassem nova restauração). Os custos dos tratamentos e reintervenções foram calculados para se avaliar a razão de custo-efetividade incremental para avaliar a eficiência da substituição da restauração pelos selantes em lesões de cárie moderadas. Para isso, efeitos de saúde centrados no paciente (aceitabilidade dos tratamentos usando a escala da Wong-Baker) e no profissional (ausência de progressão de cárie) foram usados. Após 2 anos de acompanhamento, o selamento de lesões de cárie moderada com cimento de ionômero de vidro demandou maior número de substituições que as restaurações. Por outro lado, não houve diferença quanto à progressão de cárie. Quando a visão do profissional foi colocada, os selantes ofereceram uma probabilidade de 30% de ser uma ótima opção custoefetiva em alternativa à restauração para evitar progressão de cárie, enquanto usando a aceitabilidade pela criança, essa probabilidade aumentou para 50%. Assim, considerando que as lesões moderadas realmente apresentam um alto risco de progressão, selar pode ser uma alternativa à restauração para controlar esse tipo de lesão, mas um maior número de reintervenções pode ser necessário. Por outro lado, é importante considerar que esse tratamento alternativo pode beneficiar grupos diferentes de formas diferentes e ainda, esse benefício pode variar com a perspectiva ouvida para a tomada de decisão (se é centrada no paciente ou no profissional). A investigação futura sobre essas diferenças faz-se ainda necessária.