Mucosite oral em pacientes pediátricos submetidos a transplante de células hematopoiéticas

Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP to obtain the academic title of Mestre. Leader: Corrêa, Luciana

A mucosite oral (MO) constitui uma das principais morbidades nos períodos imediatos após o transplante de células hematopoiéticas (TCH). Em pacientes pediátricos, a MO é pouco descrita na literatura, não havendo protocolos específicos para prevenção e tratamento dessas lesões. O objetivo deste estudo foi caracterizar a MO em pacientes pediátricos antes e durante os períodos recentes após o TCH, bem como verificar quais fatores relacionados ao paciente e ao transplante podem estar associados ao tempo de duração e à gravidade dessas lesões. Foi também analisado o impacto da MO nas alterações de massa corpórea, na prescrição de opióides e nutrição artificial, bem como na sobrevida global. Para tanto, foram selecionados 115 prontuários de pacientes com idade igual ou menor que 18 anos, que foram submetidos a TCH, coletando-se informações sobre o paciente, o transplante e a toxicidade no trato gastrointestinal, desde o período de condicionamento até 10 dias após a pega da medula. Os pacientes foram divididos nas faixas etárias de 0 a 2, 3 a 6, 7 a 12, e 13 a 18 anos. Observou-se que houve maior frequência de pacientes com indicação de TCH devido a imunodeficiências primárias (34.78%), seguido de pacientes portadores de neoplasias hematológicas (24.34%) e anemias (18.26%). Houve alta frequência de pacientes na faixa etária de 0 a 2 anos (n=35 pacientes) e de 7 a 12 anos (n=38). Esses pacientes foram submetidos principalmente a transplante alogênico (87.83%) e condicionamento contendo bussulfano (57.40%). Observou-se maior frequência de MO graus 3 e 4 nos pacientes na faixa etária de 7 a 12 anos em comparação às demais faixas etárias (26.32%, p=0.019). Maior tempo de duração de dor para deglutir também foi observado nessa faixa etária e na de 13 a 18 anos (p=0.024). Em geral, em todas as idades, a MO não ficou restrita ao período de neutropenia, manifestando-se antes ou estendendo-se além desse período. A prescrição de nutrição artificial (71.30%) e de opióides (84.16%) foi alta na amostra como um todo. Os pacientes com 0 a 2 anos de idade necessitaram de nutrição artificial por mais tempo (p=0.002). A profilaxia para doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH) com metotrexato foi fator de risco significativo para MO. Tanto a MO grau³2 (OR=12.6, p=0.017) quanto a duração de dor para deglutir ³3 dias (OR=6.5, p<0.001) impactaram significativamente na prescrição de opióides. A dor para deglutir também impactou na prescrição de nutrição artificial (OR=2.7, p=0.018), mas a MO não. Nenhum fator relacionado à mucosite no trato digestivo teve associação significativa com perda ou ganho de massa corpórea, nem com sobrevida global. Concluiu-se que os pacientes pediátricos que foram submetidos a TCH exibiram perfis de MO distintos segundo a faixa etária, com variações no período de manifestação, na gravidade e na duração dessas lesões. Protocolos específicos de cuidados orais para essas faixas etárias devem ser instituídos, focados principalmente no controle da MO no tocante a analgesia.

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