Trilhando caminhos para o enfrentamento da violência conjugal

Publication year: 2009
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal da Bahia to obtain the academic title of Doutor. Leader: Diniz, Normélia Maria Freire

Pelo seu caráter multifacetado, a violência conjugal consiste em um problema social, político, econômico e de saúde que requer a interdisciplinaridade e a intersetorialidade para sua compreensão e seu enfrentamento. Estudo exploratório, descritivo, com utilização de multimétodos, envolvendo aspectos quantitativos e qualitativos, fundamentado na Teoria das Representações Sociais. O objeto de estudo consiste no processo de enfrentamento da violência conjugal. Objetivou-se analisar o processo de enfrentamento da violência conjugal. Foram considerados os aspectos éticos baseados na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Santo Antônio sob nº 31/07. Os sujeitos foram constituídos por 50 mulheres e 50 homens que vivem, ou já vivenciaram, relações conjugais em união estável. A coleta de dados se deu através do Teste de Associação Livre de Palavras, com os 100 sujeitos, e da entrevista, realizada apenas com 11 mulheres e 11 homens com história de violência conjugal. Os dados quantitativos foram processados através do software EVOC 2005. Os dados qualitativos foram organizados com o apoio do NVIVO7 e baseou-se na Análise de Conteúdo de Bardin, especificamente a Análise Temática. Os sujeitos do estudo caracterizam-se por ser mulheres e homens auto-declarados negros, que vivem em união estável cujas relações conjugais são permeadas pela violência. As mulheres com história de violência (80%) apresentam grandes dificuldades financeiras, sobretudo pelo alto índice de dependência econômica (94%), pelo desemprego (40%) e pelo baixo nível de escolaridade (76% ainda não entraram no segundo grau). O estudo mostrou que a violência se expressa na relação conjugal desde os primeiros meses de relacionamento, permanecendo também durante o ciclo gestacional e trazendo sérias complicações para a saúde.

O processo de enfrentamento do fenômeno requer:

uma rede de apoio social; a compreensão da construção da desigualdade de gênero; a capacidade de resolução de conflitos de forma pacífica e respeitosa; mudança na representação da delegacia da mulher e a criação de espaço para mediação de conflitos; eficácia do sistema jurídico-policial; e uma articulação intersetorial com as políticas públicas. Nesta perspectiva, defendo a tese de que o processo de enfrentamento da violência conjugal é lento, perpassa pela compreensão da complexidade do fenômeno, pelo saber interdisciplinar, pelo fazer intersetorial, pelas conquistas políticas e pela oportunidade de refletir os valores sociais e encontrar estratégias pacíficas para a resolução de conflitos sob novos moldes de relações interpessoais na família, na escola, no trabalho, na sociedade. O estudo contribui, acadêmica e socialmente, para o desenvolvimento do conhecimento teórico acerca da violência conjugal e do seu processo de enfrentamento; orienta ações para o rompimento da relação de violência conjugal; e oferece subsídios valiosos para se repensar à formação dos cuidadores e o processo de cuidar. Na enfermagem, esse cuidado deve ser refletido na identificação precoce das situações de violência e no encaminhamento para os serviços da rede de atenção a pessoas em situação de violência a fim de evitar maiores agravos à saúde, inclusive à morte.(AU)

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