As avós idosas cuidadoras dos netos hospitalizados

Publication year: 2006
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal do Paraná to obtain the academic title of Mestre. Leader: Lenardt, Maria Helena

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, de abordagem etnográfica focada que tem como objetivo geral interpretar o significado de ser avó idosa cuidadora do neto hospitalizado. As avós foram informantes-chave e a equipe de enfermagem informantes-gerais. A coleta de dados ocorreu no período de agosto a outubro de 2006. O estudo teve como cenário uma instituição hospitalar pediátrica de grande porte na cidade de Curitiba-PR, foi embasado na etnoenfermagem proposta por Leininger (1991). A coleta dos dados foi realizada por meio do modelo de observação-participação-reflexão (OPR) proposto por Leininger (1991) e entrevistas etnográficas individuais de acordo com Spradley (1980), com vinte avós idosas cuidadoras acompanhantes dos netos hospitalizados. Para a ordenação e análise dos discursos foi utilizada a proposição metodológica de Spradley (1979), no estabelecimento dos domínios culturais e taxonomias.

Das análises etnográficas surgiram cinco domínios culturais:

1) ser avó cuidadora significa proteger o neto: As avós demonstram intensa felicidade em cuidar do neto, um amor incomensurável, sem limites, apóiam a mãe ou assumem o neto legalmente. O nascimento do neto traz mudanças à vida das avós, ele preenche sua vida e, quando doentes, a mudança é mais intensa, sofrem junto à criança. No hospital defendem, protegem o neto, aprendem os procedimentos de cuidado e, quando conhecedoras exigem mais. Em casa dão continuidade, agendam os horários das medicações e realizam as técnicas aprendidas de acordo com a patologia de cada neto 2) o apoio à mãe: razão para cuidar do neto hospitalizado.

As avós dividem a responsabilidade com a mãe:

adolescente, aquela com dificuldade em assumir a criança após o nascimento do filho, mãe que trabalha fora, mãe separada; 3) educação do neto em família: as avós são fontes simbólicas de transmissão de valores. As avós transmitem ao neto experiências, são propagadoras da cultura familiar, conquistam o neto, são contra a punição e excesso de agrado, reconhecem a autoridade dos pais; 4) crenças terapêuticas e religiosas: fontes simbólicas de apoio à avó cuidadora: as avós utilizam-se do setor popular e folclórico para cuidar dos netos, apóiam-se também em significantes religiosos, mas acreditam nos profissionais de saúde referente ao cuidado da criança; 5) a responsabilidade da avó diante das incapacidades da genitora em cuidar do neto.

Da análise temática emergiu o tema:

“o cuidado amoroso das avós junto aos netos hospitalizados: do sagrado ao profano, do imanente ao transcendente”, alicerçado no pensamento de Leonardo Boff (2000) e Mircéia Eliade (1992), desenvolvido após profundo contato com os dados coletados e estabelecimento das relações com os domínios. Demonstra o intenso cuidado amoroso das avós para com os netos hospitalizados, sentimento este inexplicável para elas, configura-se como aquele que ultrapassa o limite do imanente do ser humano. As avós são consideradas seres de imanência (sagrado) e de transcendência (profano), imanentes devido à sua limitação, seu enraizamento, sua corporeidade, suas ligações à família; são características oriundas desde o seu nascimento. No decorrer de sua vida ela descobre o seu potencial de transcender, diminui sua dimensão “galinha” (imanência) para atingir a de “águia” (transcendência), de acordo com as metáforas utilizadas por Leonardo Boff. Já os antropólogos na linha simbólica colocam o sagrado e o profano como categorias utilizadas para analisar símbolos sociais. O sagrado seria anormal, especial, do outro mundo, real e tabu. O profano seria normal, quotidiano, deste mundo, plebeu e permitido. Quando o sagrado toca o profano, este se sacraliza. Em cada experiência de sua vida incrementa e adapta sua dimensão transcendente e, quando avó ela atinge o auge, está pronta para transcender no cuidado amoroso com o neto. A avó rompe todos os limites, recusa-se em aceitar a doença da criança, questiona, preocupa, cuida. Elas são seres de prostest-ação, não aceitam negligências com o neto, apóiam a mãe na assistência, mas estão sempre atentas, para que, se necessário, tomarem outras atitudes, como assumir legalmente o neto. As avós, mesmo na terceira idade estão dispostas, superam barreiras, abrem caminhos, estão num momento de ex-istência, projetam-se para fora, determinam o seu “estilo” de serem avós, estão enamoradas pelo neto, passam horas ao seu lado, não medem sacrifícios, nunca o abandona.
It is a study of qualitative nature and focussed ethnographic approach which aims at interpreting the meaning of being an elderly grandmother-carer of hospitalised children. The grandmothers were key-informers and the nursing staff was general-informers. The data gathering occurred between August and October 2006. The study is set in a large children´s aid Institution in the city of Curitiba and was based on the ethno-nursing proposed by Leininger(1991). The data gathering was carried out via the ObservationParticipation-Reflection model also proposed by Leininger(1991) and individual ethnographic surveys with twenty elderly grandmother-carers accompanying the hospitalised grandchildren according to Spradley (1980). For the ordering and analysis of discourse, the methodological proposition by Spradley (1979) was used in the establishment of cultural domains and taxonomies.

From the ethnographic analysis emerged five different cultural domains:

1) being a grandmother-carer means protect the grandchild. The grandmothers show intense happiness about taking care of the grandchild, an immeasurable and limitless love, they support the mother or legally take over the child. The grandchild´s birth brings changes to the life of grandmothers, it fills their lives and, when they are sick, the change is even more intense, they suffer together with the child. In the hospital they defend and protect their grandchildren, they learn the procedures for caring and, when they are knowledgeable about, they want more. At home, they give continuity, they schedule the times for medication and put into practice the techniques they had learned according to the pathology of each grandchild; 2) the support to the mother: reason for taking care of the hospitalised grandchild.

The grandmothers share the responsibility with the mother:

adolescent, the one who has difficulty taking over the child after birth, the one who works out, or the separated mother; 3) the grandchild´s education in family: the grandmothers are symbolics sources in the transmission of values. The grandmothers share their experiences with their grandchildren, they are advertisers of family culture, conquer the grandchild, are against excessive punishment or patting, recognise parental authority; 4) taking care of the healthy/ sick grandchild: attitudes that bring change inn the life of the grandmother and the family. The grandchild´s birth brings changes to the life of grandmothers, it fills their lives and, when they are sick, the change is even more intense, they suffer together with the child; 5) therapeutic and religious beliefs: symbolic source of support to the grandmother-carer. The grandmothers make use of the folkloric and public sector to take care of their grandchildren, they also seek refuge in religious means, but they do believe in the professionals entitled of their grandchild´s care.

From the thematic analysis emerged the theme:

“the loving care of the grandmother-carers towards their hospitalised grandchildren: from sacred to profane, from immanence to transcendence” based on the thoughts of Leonardo Boff (2000) and Mircéia Elíade (1992), developed after profound contact with the gathered data and the establishment of relations among the domains. It demonstrates the intense loving care of grandmothers towards the hospitalised grandchildren, such an inexplicable sentiment that is shown as the one which trespasses the limit of the human immanence. The grandmother is considered a being of immanence (sacred) and transcendence (profane), immanent due to her limitation, her rooting, her corporeity, her family bonds; characteristics from birth. Throughout her life she discovers her potential to transcend, lessens her “chicken” dimension (immanence) and reaches her “eagle” dimension (transcendence), according to the metaphors used by Leonardo Boff. Already the anthropologists in the symbolic line place the sacred and the profane as categories used to analyze social symbols. The sacred would be abnormal, special, of the other world, Real and taboo. The profane would be normal, everyday, of this world, plebeian and allowed. When the sacred lair the profane, this if to get sacred. In each life experience, she enhances and adapts her transcending dimension and, as a grandmother, she reaches the summit and is ready to transcend in the loving care towards her grandchild. The grandmother trespasses all limits, refuses to accept the child´s disease, questions, worries and takes care. They are beings of protest – action, they do not accept negligence towards her grandchild, they support the mother in assistance, but they are always attentive, so as to, if necessary, they take different actions such as legally take over the child. The grandmothers, even though third-aged, overcome barriers, open tracks, are in a moment of ex-instance, project themselves, determine their style of being grandmothers, are in love with their grandchild, spend hours by their sides, do not mind sacrifices but never leave them.

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