Representações sociais construídas pelas famílias sobre o cuidar do doente mental em domicílio

Publication year: 2006
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal da Bahia to obtain the academic title of Mestre. Leader: Sadigursky, Dora

A assistência ao portador de transtorno mental tem sido constantemente modificada ao longo da historia. Desde a exclusão destes pacientes pela sociedade, onde eram trancafiados em porões ou isolados em locais sem as condições mínimas necessárias para sua sobrevivência, passando pela fase da medicalização da loucura, com a criação dos hospícios e dos fármacos psicotrópicos, até a atual fase da reforma psiquiátrica, em que se busca a integração do doente mental na sociedade e, principalmente, dentro de casa, com a família. Estudar esta temática é de extrema relevância para que se possa prestar uma assistência eficaz às famílias. O objeto deste estudo é, portanto, as representações sociais construídas pela família sobre o cuidar do doente mental em domicílio, e traz como objetivos apreender as representações sociais construídas pela família sobre o cuidar do doente mental em domicílio e explorar estas representações. Trata-se de uma pesquisa exploratória que aborda aspectos quantitativos e qualitativos, orientada pela Teoria das Representações Sociais. O campo de estudo foi o Centro de Saúde Mental Prof. Aristides Novis, na cidade de Salvador-BA; os sujeitos da pesquisa foram familiares que cuidam de doentes mentais em casa. Os dados foram coletados através de 100 sujeitos, e a coleta deu-se por meio de entrevista semi-estruturada do teste de associação livre de palavras. Os dados foram analisados através da Analise de Conteúdo Categorial Temática de Bardin (entrevistas) e da Analise Fatorial de Correspondência, através do software Tri–Deux-Mots, (testes de associação livre de palavras).

A análise de conteúdo revelou quatro categorias:

1) descrições das manifestações sobre o cuidar do doente mental em domicílio (com as subcategorias: relacionais, socioeconômicas, psicossocias, explicativas/justificadoras); 2) implicações do cuidar (tendo como subcategorias: desestruturação familiar, restrição de liberdade, desgaste físico/psíquico); 3) atitudes frente ao cuidar (e as subcategorias: favorável e desfavorável); e 4) crenças (relacionadas à fé e à religiosidade). A partir destas categorias (e subcategorias), pôde-se apreender as dificuldades e sentimentos dos familiares cuidadores de doentes mentais em casa. Na análise fatorial de correspondência, objetivaram-se, por meio dos estímulos doença mental e cuidar de um doente mental, palavras como atenção, dor, adoece, agressão, desequilíbrio, acompanhar, asseio, o que demonstrou que cuidar de um portador de transtorno mental constitui uma tarefa difícil e que causa sofrimento à família. Os resultados da análise de conteúdo e da analise fatorial foram convergentes e apontaram que as representações sociais do cuidar do doente mental pela família em domicílio ancoram-se em questões psicológicas, socioeconômicas e fisiológicas, e ocasionam sentimentos, tais como: medo, angústia e insegurança, bem como as dificuldades financeiras causadas pela improdutividade do doente mental, além das questões de desgaste físico nas quais os cuidadores demonstram cansaço e desgaste com a obrigação do cuidar diário. Os objetivos do estudo foram atingidos e alertaram para a necessidade de se prestar uma assistência, não só ao portador de transtorno mental, mas também à família que com ele convive, para que esta receba suporte e orientação no cuidar, evitando-se, ou pelo menos, amenizando-se os efeitos deste convívio, tornando-o menos cansativo e desgastante. (AU)

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