Mortalidade perinatal em Salvador: análise espacial das condições de evitabilidade e desigualdades sociais
Publication year: 2014
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva to obtain the academic title of Doutor. Leader: Costa, Maria da Conceição Nascimento Costa
A mortalidade perinatal constitui-se na atualidade um grande desafio para as autoridades no mundo inteiro, em face da dificuldade para evitar estes óbitos, haja vista a complexidade dos fatores de risco. É grande a sua magnitude, mas não tão expressivas são as medidas de prevenção, especialmente nos países menos desenvolvidos. Assim sendo, representa um indicador sensível da qualidade e acesso à assistência obstétrica e neonatal. Esta pesquisa teve como objetivos identificar as áreas de risco, a evitabilidade das causas, os fatores associados à mortalidade perinatal e as desigualdades sociais nesta mortalidade em Salvador, Bahia, no ano de 2007. As unidades de análise foram as 62 áreas de ponderação desta capital soteropolitana. Os dados foram obtidos dos Sistemas de Informação de Nascidos Vivos e sobre Mortalidade, bem como do Censo Demográfico de 2010. A análise estatística foi realizada utilizando os softwares Arc-View, GeoDa, STATA e R. Para análise da evitabilidade, tomou-se como referência a Lista de Causas de Mortes Evitáveis por Intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. A mortalidade perinatal em Salvador foi elevada no ano em estudo (25,81000/NV) e as maiores taxas se localizaram ao centro e algumas áreas concentradas ao norte, oeste, sul e leste. Não foi detectada dependência espacial para esta mortalidade pela estatística de I de Moran no estudo, a não ser para a mortalidade perinatal evitável pela atenção à gestação, pelo C de Geary, cujas áreas de risco se encontravam ao norte. Quase a totalidade dos óbitos foi evitável (92,1%) e quase metade destes ocorreu pelas causas evitáveis na atenção o parto, sendo a asfixia ao nascer a principal causa (31,5%). Em se tratando dos fatores associados à mortalidade perinatal, baixo peso ao nascer (β = 0,477; p<0,01), raça negra (β = 0,048; p<0,01) e local de nascimento em hospital público (β = 0,026; p<0,01) foram os preditores da variação espacial desta mortalidade. Para a mortalidade perinatal evitável, independentemente do local de nascimento, os recém- nascidos foram expostos até sete vezes mais ao risco pelo efeito do baixo peso ao nascer. Não houve gradiente na mortalidade perinatal quando analisada por estratos do Índice de Condição de Vida, porém os indicadores socioeconômicos apresentaram risco relativo 71,0% superior para nas áreas de ponderação cuja renda domiciliar per capita era inferior a 2,2 salários mínimos. Este resultado foi similar quando a variável dependente analisada tratou-se da mortalidade perinatal por causa evitável. Os resultados deste estudo demonstraram que a mortalidade perinatal em Salvador teve forte influencia dos fatores sociais, considerando as áreas de risco em locais de infraestrutura precária, as desigualdades de renda e os preditores para a mortalidade perinatal proxy de condições socioeconômicas. Avaliar a mortalidade perinatal com enfoque das áreas de risco, fatores associados, evitabilidade e desigualdades sociais, permitiu melhor compreensão da magnitude desta mortalidade em Salvador e poderá contribuir para orientar estratégias de prevenção