Estudo epidemiológico dos defeitos de desenvolvimento do esmalte em crianças de 2 a 4 anos de idade do município de Santa Isabel, SP
Publication year: 2021
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Odontologia to obtain the academic title of Doutor. Leader: Bonecker, Marcelo Jose Strazzeri
Os distúrbios que ocorrem durante a formação do esmalte de dentes decíduos que se apresentam como Defeitos do Desenvolvimento do Esmalte (DDE) possuem importante significado clínico, pois podem causar problemas estéticos, alteração na oclusão, sensibilidade dentária e podem atuar como fator predisponente à cárie dentária, bem como ser preditor da Hipomineralização Molar - Incisivo. Estas possíveis implicações clínicas podem impactar negativamente na qualidade de vida relacionada a saúde bucal (QVRSB) das crianças com DDE. Os objetivos do presente estudo foram conhecer a prevalência e gravidade dos DDE em dentes decíduos, identificar os fatores etiológicos associados aos DDE e avaliar o impacto dos DDE na QVRSB. O estudo avaliou 336 crianças de 2 a 4 anos de idade do município de Santa Isabel, São Paulo durante a campanha nacional de vacinação. Para o diagnóstico dos DDE foi avaliada a extensão, localização, cor do defeito e o tipo de defeito, através do índice DDE modificado preconizado pela Federação Dentária Internacional. As mães ou cuidadores legais responderam a um questionário sobre variáveis sociodemográficas e condições pré, peri e pós-natal. Para avaliar o impacto dos DDE na QVRSB, foram coletados dados utilizando a versão brasileira do questionário ECOHIS. Foram realizadas análises descritivas, teste Kappa, teste qui-quadrado, teste de normalidade Kolgomorov Smirnov, teste Wilcoxon, análises não ajustadas e ajustadas de regressão de Poisson (? = 0.05). A prevalência de DDE foi 50,6%. As opacidades demarcadas (45,0%) e difusas (36,0%) de coloração branco/creme foram os defeitos mais frequentes. Molares foram os dentes mais afetados, e dentre as superfícies examinadas, as faces vestibulares foram as mais acometidas. Houve associação dos DDE com o consumo de álcool na gestação (RP 1.26; IC 95%=1.03- 1.55; p=0.022), hospitalização da criança no primeiro ano de vida por doenças infecciosas (RP=1.36; IC 95%=1.07-1.65; p=0.010) e cárie dentária (RP=1.31; IC 95%=1.03-1.65; p=0.022). Crianças que foram amamentadas por 12 meses tiveram menor risco de desenvolver DDE (RP=0.54; IC 95%=0.44-0.68; p=0.001). As opacidades de cor amarelo-marrons apresentaram maior chance de causarem impacto negativo nos domínios sintoma e limitação (p<0,05) e no domínio angústia dos pais (p<0,05). Pode-se concluir que os DDE apresentam alta prevalência e gravidade leve. Consumo de álcool durante a gravidez e hospitalização da criança por doenças infecciosas no primeiro ano de vida são fatores de risco para DDE na dentição decídua. A amamentação por um período de 12 meses é um fator de proteção ao desenvolvimento de DDE na dentição decídua. As opacidades demarcadas amarela-marrons causam impacto negativo na QVRSB de crianças de 2 a 4 anos conforme os relatos dos pais.