Rotavírus A e norovírus em crianças da comunidade de Manguinhos, Rio de Janeiro: susceptibilidade do hospedeiro, monitoramento do vírus vacinal RV1 e genótipos circulantes

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Doutor. Leader: Leite, José Paulo Gagliardi

Os rotavírus A (RVA) e os norovírus são os principais vírus associados à etiologia da gastroenterite aguda (GA) em <5 anos. A partir de 2006, com a introdução das vacinas de RVA, observou-se um declínio expressivo da morbidade/mortalidade por estes vírus, em detrimento a crescente importância das infecções pelos norovírus nesta faixa etária. Antígenos do grupo histosanguíneo humano (HBGAs), presentes na mucosa intestinal, têm sido descritos como potenciais ligantes e/ou cofatores requeridos nos estágios da patogênese das infecções por estes vírus, influenciando na epidemiologia molecular e evolução em diferentes populações. Este estudo teve como objetivo associar o perfil de susceptibilidade (HBGA/Secretor/Lewis) de crianças residentes na comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, à eficácia da resposta a vacina RV1 (Rotarix®/G1P[8]), assim como às infecções naturais pelos norovírus. Com este propósito realizou-se o monitoramento das infecções por RVA e norovírus em uma coorte de crianças de 0-11 meses, pela detecção e caracterização molecular destes vírus em amostras de fezes de crianças sintomáticas ou não. No período de 2014 a 2018, 132 crianças foram incluídas neste estudo, disponibilizando o mesmo número de amostras de saliva para determinação do perfil de susceptibilidade por ELISA e 569 amostras de fezes para investigação de ambos os vírus por métodos moleculares.
O vírus vacinal excretado foi caracterizado em 78% (85/109) das amostras RVA. A presença da mutação F167L (RV1), demonstrada pelo sequenciamento do gene VP8*, foi observada em 20,1% das crianças. Quatro casos de rotaviroses pelos genótipos G3P[8], G12P[8] e G3P[9] foram observados. Os norovírus foram detectados em 21,2% (28/132) das crianças, com incidência de 5,8 infecções em 100 criança-meses. A razão de detecção foi de 5,6% (17,1% dos casos diarrêicos e 4,7% dos assintomáticos), sendo seis diferentes genótipos detectados (GII.4_Sydney_2012[P31], GII.4_Sydney_2012[P16],GII.4_Sydney_2012[P4_New_Orleans_2009],GII.2[P16],GII.6[P7] e GI.3[P13]). Em relação ao perfil HBGA, observou-se 80,3% das crianças com o status secretor. A caracterização do gene FUT2 (Se) em crianças secretoras Le (a+b+) e não secretoras, e do gene FUT3 (Le) em Le (a-b-), possibilitou a identificação de novas mutações nesta população.
A mutação F167L na RV1 excretada foi identificada em 86,4% das crianças que apresentaram o fenótipo secretor Le (a+b+), indicando que os HBGAs poderiam ser importantes marcadores na avaliação da RV1; significante associação entre infecção sintomática pelos norovírus e o status secretor (Leb) também foi observada. A ocorrência de norovírus na coorte e a sua crescente importância epidemiológica, determinou a ampliação deste estudo, com a análise de 61 amostras fecais oriundas de 49 crianças na faixa etária de 1-4 anos residentes em Manguinhos. Os norovírus foram detectados em 47,5% (29/61) das amostras (46,7% dos casos diarrêicos e 50% dos assintomáticos) e quatro novos genótipos foram identificados, sendo o recombinante GII.2[P16] detectado pela primeira vez no Brasil. Os dados de vigilância epidemiológica deste estudo comprovam a importância do monitoramento dos principais vírus responsáveis pela gastroenterite infantil aguda, evidenciando a diversidade genética e a dinâmica destes vírus considerando novas abordagens como o perfil HBGA, que trouxe uma importante contribuição em relação à avaliação da eficácia da RV1 na coorte estudada. (AU)

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