Avaliação do perfil inflamatório de diferentes depósitos de tecido adiposo na obesidade

Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Doutor. Leader: Monteiro, Clarissa Menezes Maya

O tecido adiposo desempenha papel fundamental na regulação do balanço energético e na modulação do sistema imune. A obesidade, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo branco (WAT, do inglês white adipose tissue), é uma doença de caráter inflamatório crônico e que prejudica esses dois sistemas. Considera-se que depósitos de WAT distintos respondem de maneira diferente a estímulos lipolíticos, adipocinas e a mediadores lipídicos. Neste trabalho investigamos o perfil de mediadores inflamatórios de pacientes com obesidade mórbida (OB) e o papel de distintos depósitos de tecido adiposo humano e de modelo experimental de obesidade induzida por dieta no desenvolvimento da inflamação característica do grande obeso. Na análise dos níveis séricos de adipocinas observamos que o grupo OB apresentou níveis mais elevados de leptina e menores níveis circulantes de resistina, MCP-1/CCL2 PAI-1, TNF-α e IL-1β quando comparados a indivíduos com IMC normal. Ainda, depósitos abdominais de tecido adiposo humano e depósitos de WAT murino foram investigados em relação à hipertrofia e mediadores inflamatórios. Amostras de tecido adiposo de indivíduos obesos foram obtidas durante cirurgia de gastroplastia. Os depósitos de tecido adiposo de camundongo C57BL/6J em dieta normal (ND) e dieta hiperlipídica (HFD) foram obtidos ao final de 3-5 meses de dieta. Os depósitos de WAT humano (SC-subcutâneo, PP- pré-peritoneal e VC-visceral) apresentaram diferenças macroscópicas como dimensão do lóbulo gorduroso e irrigação, todavia não observamos distinção no tamanho dos adipócitos maduros.
Em humanos, o WAT pré-peritoneal apresenta maior expressão de ATGL quando comparado aos dois outros depósitos de WAT. O tecido adiposo VC apresenta maior nível da proteína ADRP e adiponectina, embora não tenha sido encontrada diferença na expressão de mRNA de PLIN2 e ADIPOQ. A expressão de PLIN1, LEPR e FABP4 também é semelhante nos tecidos SC, PP e VC de pacientes obesos, assim como a presença de perilipina avaliada por Western blot. Os depósitos de tecido adiposo humano variam bastante em relação aos mediadores inflamatórios. Observamos maior conteúdo de leptina, IFNγ e GM-CSF no extrato total de WAT SC em contraste com maior nível de MCP-1/CCL2 no extrato total de tecido adiposo PP. Entretanto, os depósitos de tecido adiposo humano apresentaram nível semelhante do marcador de macrófagos (CD14). Tal qual em humanos, os depósitos de WAT murino apresentam mesma quantidade de perilipina na análise por Western blot, mesmo depois de dieta hiperlipídica e consequente aumento ponderal. O tamanho dos adipócitos também varia entre os diferentes depósitos de WAT, com grande hipertrofia pós dieta high-fat, sendo menor no SC e maior no epididimal (EP). Observamos diminuição de PPARγ1 nos quatro depósitos de tecido adiposo em camundongos HFD.
Ainda, observamos maiores níveis de citocinas pró-inflamatórias no WAT de camundongos HFD (leptina e MCP-/CCL2), além da mudança no perfil inflamatório de adipócitos maduros primários entre os diferentes depósitos de WAT também em decorrência de dieta hiperlipídica. Adipócitos murinos diferenciados in vitro apresentam perfil de secreção de citocinas diferente de células adiposas primárias, principalmente em relação à leptina. Nossos resultados sugerem que os distintos depósitos de tecido adiposo possuem variações no perfil inflamatório assim como em relação às enzimas associadas ao processo de lipólise que podem influenciar diretamente e de maneira distinta as alterações moleculares presentes durante a obesidade. Os modelos de obesidade experimental em camundongos, embora ajudem a esclarecer diversos mecanismos e vias de sinalização alterados na obesidade, não têm correlação direta aos depósitos de tecido adiposo subcutâneo e visceral em humanos. (AU)

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