Publication year: 2016
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Antônio Prudente to obtain the academic title of Doutor. Leader: Achatz, Maria Isabel Waddington
INTRODUÇÃO:
a Síndrome de Li-Fraumeni (LFS; OMIM#151623) é uma síndrome rara de predisposição hereditária ao câncer, de caráter autossômico dominante e de alta penetrância, relacionada a mutações germinativas no gene TP53. Os tumores típicos da LFS são sarcomas de partes moles e ósseos, leucemias, tumores do sistema nervoso central (SNC), tumores adrenocorticais e tumores de mama. No entanto, há uma variação no espectro tumoral de acordo com o genótipo. No Brasil, há uma alta prevalência da mutação germinativa p.R337H (presente em 0.3% da população do Sul e Sudeste) devido a um efeito fundador. O conhecimento do real espectro tumoral da síndrome associada a esta mutação fundadora ainda é objeto de discussão. PACIENTES E MÉTODOS:
foram avaliados dados clínicos, retrospectivamente, a partir de prontuários médicos, de 247 pacientes com LFS e LFS portadores de mutações germinativas no gene TP53, atendidos no Departamento de Oncogenética do A.C.Camargo Cancer Center de 2001 a 2015. As características dos tumores apresentados pelos pacientes portadores de mutação (espectro tumoral, idade do diagnóstico do primeiro tumor e dos tumores subsequentes, tipo histológico dos tumores) foram comparadas entre o grupo de portadores da mutação p.R337H e o grupo de pacientes com as demais mutações patogênicas no gene TP53. As taxas de frequência das mutações (p.R337H versus outras mutações), assim como sexo (masculino e feminino) foram correlacionados com o status de óbito, desenvolvimento ou não de câncer, a idade do diagnóstico do primeiro câncer, tempo do primeiro câncer até aparecimento do segundo câncer, através do teste qui-quadrado ou teste exato de Fisher. Foi aplicado o Teste T para amostras independentes. O estimador de Kaplan-Meier e o teste de log rank foram utilizados para avaliar a influência das variáveis nos tempos de sobrevida global, tempo de aparecimento do primeiro câncer e tempo do primeiro câncer até aparecimento do segundo câncer. RESULTADOS:
de 247 portadores de LFS incluídos no estudo, 193 pacientes eram portadores da mutação p.R337H. Deste total de 193 portadores da mutação p.R337H, 101 pacientes apresentaram câncer (52.3%) e 23,8% dos pacientes com câncer tiveram dois ou mais tumores ao longo da vida; enquanto dos 54 pacientes portadores de outras mutações no gene TP53 (21.9% da população total), 39 pacientes tiveram câncer (72.2%), p=0.009. A idade média de diagnóstico do primeiro câncer nos portadores da mutação p.R337H foi de 30.8 anos, comparada a 28.9 anos nos portadores de outras mutações no gene TP53, p=0.604. nos portadores da mutação p.R337H, o primeiro tumor também ocorreu em idade mais precoce nas pacientes femininas (média de 34.7 anos versus 50.4 anos, p<0.001). Em relação ao espectro dos tumores p.R337H na nossa população, câncer de mama e sarcoma de partes moles foram os tumores mais frequentes, seguidos de carcinoma adrenocortical, perfazendo 70,5% dos tumores apresentados nesta população. Nos portadores de outras mutações no gene TP53 , câncer de mama, sarcoma de partes moles, tumor de sistema nervoso central e sarcoma ósseo corresponderam a 69.3% de todos os tumores observados. Nossos dados revelam uma alta frequência de carcinoma adrenocortical (21.5%), carcinoma papilífero de tireoide (6.8%), adenocarcinoma de pulmão (4.9%) e carcinoma renal (4.3%) nos portadores da mutação p.R337H. Interessantemente carcinoma colorretal foi observado apenas nos portadores de outras mutações não-p.R337H. O sarcoma de partes moles nos portadores p.R337H mais frequente foi o leiomiossarcoma e a idade média de diagnóstico foi 46.8 anos; nos portadores das outras mutações, rabdomiossarcoma e leiomiossarcoma foram os subtipos mais frequentes e a idade média do diagnóstico foi 24 anos (p=0.001). A idade média de diagnóstico de câncer de mama foi 42.8 anos nos portadores da mutação p.R337H e 37 anos nos portadores das demais mutações no gene TP53 (p=0.029). O câncer de mama nos portadores das outras mutações apresentavam hiperexpressão de HER2 em 62.5% dos casos, comparado a 19% nos tumores de mama das portadoras da mutação p.R337H. CONCLUSÕES:
nossos dados mostram um espectro tumoral distinto para os portadores da LFS com a mutação p.R337H. Esses dados podem ajudar a estabelecer um programa de rastreamento para esses portadores diferente do preconizado para os portadores das demais mutações no gene TP53.
INTRODUCTION:
Li Fraumeni syndrome (LFS, OMIM #151623) is a rare autosomal dominant genetic disorder inherited by germline TP53 mutations. Carriers have a high lifetime risk of developing multiple early-onset childhood and adult cancers, including soft tissue and bone sarcomas, central nervous system (CNS) tumors, adrenocortical tumors (ACT), breast cancer and leucemia. However, tumor spectrum may have difference according to genotype. In Brazil, it is observed a high prevalence of a founder germline mutation p.R337H (present in 0.3% of the population in South and Southeast). The exact tumor profile associated to p.R337H carriers is unknown. PATIENTS AND METHODS:
we have analyzed medical records of a cohort of 247 germline TP53 mutation carriers, members of Brazilian families who fulfilled LFS/LFL clinical criteria, between 2001 and 2015 from the Oncogenetics Department at A.C.Camargo Cancer Center, Sao Paulo, Brazil. Clinical data were retrospectively evaluated and the tumor
characteristics of carriers (tumor spectrum, age at diagnosis, histological subtype) were compared between p.R337H carriers and carriers of other mutations in TP53 gene. The mutation status (p.R337H and other mutations) and gender (male and female) were correlated with death rate, cancer risk, age at diagnosis of cancer, interval between the first and the second cancer diagnosis, using the chi-squared test or Fisher's exact test. The T test was used for independent samples analysis. The Kaplan-Meier and log rank test were used to evaluate the influence of variables on overall survival, time and cancer the first time until onset of the second cancer. RESULTS:
the study evaluated 247 patients with LFS, 193 patients had the mutation p.R337H. Among 193 p.R337H carriers, 101 patients had cancer (52.3%) and 23.8% of cancer-affected carriers had two or more tumors lifetime; whereas from 54 non-p.R337H mutation carriers, 39 patients were cancer-affected (72.2%), p = 0.009. The mean age at diagnosis of first cancer in p.R337H carriers was 30.8 years old (yo) compared to 28.9 yo in non-p.R337H mutation carriers, p = 0.604. In p.R337H patients, the first tumor occurred at an earlier age in female patients (mean age at 34.7 yo vs. 50.4 yo, p <0.001). Regarding the tumor spectrum in p.R337H carriers, breast cancer and soft tissue sarcoma
were the most frequent tumors, followed by adrenocortical carcinoma (70.5% of the total of tumors). In non-p.R337H mutation carriers, breast cancer, soft tissue sarcoma, central nervous system tumor and bone sarcoma accounted for 69.3% of all tumors observed. Our results showed a high frequency of adrenocortical carcinoma (21.5%), papillary thyroid carcinoma (6.8%), lung adenocarcinoma (4.9%) and renal cell carcinoma (4.3%) in p.R337H patients. Interestingly, colorectal carcinoma was observed only in nonp.R337H mutation patients. Leiomyosarcoma was the most frequent sarcoma subtype in p.R337H carriers and the mean age at diagnosis was 46.8 yo; in non-p.R337H mutation patients, rhabdomyosarcoma and leiomyosarcoma were the most frequent subtypes and the mean age at diagnosis was 24 yo (p = 0.001). The mean age at diagnosis of breast cancer was 42.8 yo in p.R337H patients and 37 yo in non-p.R337H mutation patients (p = 0.029). The breast cancer in non-p.R337H mutation patients showed overexpression of HER2 in 62.5% of cases, compared to 19% in breast tumors from p.R337H carriers. CONCLUSIONS:
our clinical cohort revealed a different tumor spectrum associated with p.R337H TP53 mutation. The major limitation in our study was the relatively small sample of nonp.R337H mutation carriers to compare with p.R337H carriers. Notwithstanding, our findings offer insight into exploring a distinct cancer screening protocol for p.R337H mutation carriers in Brazil.