Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Antônio Prudente to obtain the academic title of Doutor. Leader: Ferreira, Fábio de Oliveira
Introdução:
A sarcopenia é um distúrbio muscular esquelético progressivo e generalizado, associado ao aumento da probabilidade de resultados adversos e piora de desfechos clínicos. Objetivo:
Avaliar evolutivamente a sarcopenia e sua influência em desfechos clínicos de pacientes com câncer do aparelho digestivo em tratamento oncológico. Método:
Estudo prospectivo de avaliação de sarcopenia por meio das medidas de força de preensão palmar (FPP), circunferência de panturrilha (CP) e velocidade de marcha (VM) aferidas em 3 momentos: M1 – ao diagnóstico; M2 – pós-neoadjuvância e/ou precedendo a realização de cirurgia; M3 – 180 dias após o final do tratamento oncológico (data da cirurgia nos casos de cirurgia exclusiva, ou data do final do tratamento adjuvante ou data da interrupção do tratamento paliativo). Foi utilizado o teste de χ2 de Person para análise e comparação de proporções de variáveis categóricas e o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para variáveis contínuas. Quando observada distribuição normal, utilizamos o teste T-Student para comparação entre duas médias e a análise de variância (ANOVA) para comparações múltiplas. Para comparação de dados com distribuição não-normal, foram utilizados os testes não-paramétricos de Mann-Whitney para duas distribuições e Kruskal-Wallis para comparações múltiplas. O método de Kaplan-Meier foi utilizado para confecção das curvas de sobrevida e o teste de Log-Rank para a comparação entre elas. Significância estatística foi atribuída para valores de p<0,05. A análise foi processada no programa SPSS versão 22.0 (Chicago, IL). Resultados:
Entre fevereiro de 2016 e maio 2019, avaliamos 137 pacientes (78 homens e 59 mulheres; idade mediana de 61,5 anos), acometidos pelos seguintes tumores primários: colorretal (73), estômago (37), esôfago (12), pâncreas (6), fígado (6), duodeno (2) e vias biliares (1), incluindo candidatos a tratamentos curativos (101; 73,7%) e paliativos (36; 26,3%). A prevalência de sarcopenia foi de 18,2% (25/137) no M1, 21,6% (24/111) no M2 e 66,2% (53/80) no M3, com aumento significativo entre os momentos M1-M2 e M3, tanto na amostra global (p<0,001) quanto nos grupos de tratamento curativo (M1 17,8%, M2 20,6% e M3 68,8%; p<0,001) e paliativo (M1 19,4%, M2 28,6% e M3 56,3%; p=0,028). Na amostra global, a FPP decresceu entre os momentos M1-M2 e M3 (p<0,01), assim como a CP (p=0,004), porém os valores de VM não se alteraram (p=0,056). Em ambos os grupos (curativo e paliativo), as medidas de FPP sofreram decréscimo evolutivo entre os momentos M1-M2 e M3 (p<0,001), demonstrando a perda progressiva de força muscular. Quanto à CP, as medidas não se alteraram no grupo de tratamento curativo (p=0,70), mas sofreram decréscimo evolutivo (p= 0,014) no grupo de tratamento paliativo, demonstrando a perda progressiva de massa muscular. Quanto à VM, no grupo de tratamento curativo, o pior desempenho foi no M2 em relação a M1 e M3 (p=0,035), demonstrando o efeito adverso do tratamento neoadjuvante, mas, também, a capacidade de recuperação após o final do tratamento. No grupo de tratamento paliativo, a VM sofreu decréscimo numérico, porém sem significância estatística (p=0,356). Na análise restrita a pacientes submetidos a tratamento neoadjuvante, a prevalência de sarcopenia aumentou de 13,7% (7/51) no M1 para 30,8% (8/26) no M2 (p=0,094). Não observamos aumento do risco de complicações pós-operatórias maiores em sarcopênicos em relação a não sarcopênicos (4/23; 17,4% vs. 9/85; 10,6%; p=0,374). Pacientes sarcopênicos no M2 apresentaram piores sobrevidas medianas em relação aos não sarcopênicos (9,1 meses vs. 21,8 meses; p=0,012), fato também observado no grupo de tratamento curativo (7,5 meses vs. 21,8 meses; p=0,006). Conclusões:
A sarcopenia é uma condição prevalente no diagnóstico de câncer do aparelho digestivo e ocorre em maior magnitude nas fases subsequentes, prolongando-se após o final do tratamento, mesmo quando a intenção é curativa, sugerindo que, além da doença, o tratamento oncológico contribui para sua gênese e não impede sua progressão na condição de tratamento paliativo. As medidas de FPP, CP e VM sofrem alterações evolutivas, sendo parâmetros eficazes para a avaliação de sarcopenia nas diferentes fases do tratamento oncológico. Quando avaliada no momento que antecede a cirurgia, após tratamento neoadjuvante, a presença de sarcopenia está relacionada a piores desfechos clínicos, com prejuízo dos indicadores de sobrevida, mesmo no cenário de tratamento curativo
Introduction:
Sarcopenia is a progressive and generalized skeletal muscle disorder associated with increased likelihood of adverse outcomes and worsening clinical outcomes. Objective:
The present study aimed to progressively evaluate sarcopenia and its influence on clinical outcomes of patients with cancer of the digestive tract undergoing cancer treatment. Methods:
Prospective study of evaluation of sarcopenia using handgrip strength (PFP), calf circumference (CP) and gait speed (MV) measurements in 3 moments: M1 - preceding the beginning of the treatment; M2 - post neoadjuvant and / or preceding surgery; and M3 - 180 days after the end of the cancer treatment (date of surgery in cases of exclusive surgery or date of end of adjuvant treatment or date of discontinuation of the palliative treatment). Person's χ2 test was used for analysis and comparison of proportions of categorical variables as well as the Shapiro-Wilk normality test for continuous variables. When normal distribution was observed, the T-Student test for comparison between two means and the analysis of variance (ANOVA) for multiple comparisons were used. To compare data with non-normal distribution, the nonparametric Mann-Whitney test for two distributions and Kruskal-Wallis test for multiple comparisons were used. The Kaplan-Meier method determined the survival curves and to compare them the Log-Rank test was used. Statistical significance was attributed to p values <0.05. The statistical procedures were performed by SPSS version 22.0 (Chicago, IL). Results:
From February 2016 to May 2019, 137 patients were evaluated (78 men and 59 women; median age 61.5 years old) affected by the following primary tumors: colorectal (73), stomach (37), esophagus (12), pancreas (6), liver (6), duodenum (2) and biliary tract (1), including candidates for curative (101; 73.7%) and palliative (36; 26.3%) treatments. The prevalence of sarcopenia was 18.2% (25/137) in M1, 21.6% (24/111) in M2, and 66.2% (53/80) in M3, with a significant increase between M1- M2 and M3, both in the global sample (p <0.001) and in the curative (M1 17.8%, M2 20.6% and M3 68.8%; p <0.001) and palliative (M1 19.4 %, M2 28.6% and M3 56.3%; p = 0.028) treatment groups. Regarding the overall sample, PPF decreased between M1-M2 and M3 (p <0.01), as well as CP (p = 0.004), but MV values did not change (p = 0.056). In both groups (curative and palliative), PPF decreased evolutionarily between M1-M2 and M3 (p <0.001), denoting the progressive muscle strength loss. CP did not change in the curative treatment group (p = 0.70), however, in the palliative treatment group, it decreased evolutionarily (p = 0.014), denoting the progressive muscle mass loss. Regarding the MV, the worst performance was in M2 compared to M1 and M3 (p = 0.035), demonstrating the adverse effect of neoadjuvant treatment, but also the ability to recover after the end of treatment in the curative treatment group. In the palliative treatment group, MV decreased, but was not statistically significant (p = 0.356). In the analysis restricted to patients undergoing neoadjuvant treatment, the prevalence of sarcopenia increased from 13.7% (7/51) in M1 to 30.8% (8/26) in M2 (p = 0.094). There was not an increased risk of major postoperative complications in sarcopenic compared to non-sarcopenic patients (4/23; 17.4% vs. 9/85; 10.6%; p = 0.374). M2 sarcopenic patients presented worse median survival than non-sarcopenic patients (9.1 months vs. 21.8 months; p = 0.012); the same was observed in the curative treatment group (7.5 months vs. 21.8 months; p = 0.006). Conclusions:
Sarcopenia is a prevalent condition in the diagnosis of digestive cancer and occurs in greater magnitude in subsequent stages, extending after the end of treatment, even when the intention is curative, suggesting that, besides the disease, cancer treatment contributes to its genesis and does not prevent its progression in the palliative treatment condition. The PPF, CP, and MV measurements changed evolutionarily; therefore, these parameters are relevant for the evaluation of sarcopenia in the different stages of cancer treatment. When evaluated prior to initiation of treatment following neoadjuvant treatment, the presence of sarcopenia is related to worse clinical outcomes, with impairment of survival rates, even in the curative treatment setting