Fatores socioambientais associados à distribuição e à intensidade das geo-helmintíases em uma área urbana da Região de Marajó, estado do Pará, Brasil

Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Mestre. Leader: Boia, Marcio Neves

Introdução:

As geo-helmintíases são doenças relacionadas à pobreza com altas taxas de prevalência em países em desenvolvimento.

Objetivo:

O presente estudo teve como objetivo descrever o cenário epidemiológico das geohelmintíases em uma população urbana da Amazônia brasileira.

Metodologia:

Foi realizado um inquérito transversal (n = 349 crianças e adolescentes de 1 a 15 anos) para obter amostras fecais, dados sociodemográficos e de saneamento. As técnicas parasitológicas utilizadas foram Kato-Katz e Ritchie. As análises estatísticas do estudo compreenderam as medidas de associação razão de chances (odds ratios; ORs). O teste exato de Fisher foi utilizado para avaliação da significância estatística com intervalos de confiança de 95%. Nos modelos bi e multivariado as associações foram consideradas estatisticamente significativas quando p < 0,05.

Resultados:

Entre as crianças e adolescentes, 143 (41%) eram positivos para pelo menos um geo-helminto. As taxas de prevalência de infecções por A. lumbricoides, T. trichiura e ancilostomídeos foram de 17,5%, 36,4% e 7,4%, respectivamente. Um modelo multivariado de regressão logística mostrou que a infecção por A. lumbricoides é significativamente mais frequente em crianças de 11-15 anos (odds ratio [OR] = 2,38; intervalo de confiança de 95% [IC] = 1,15-4,94; p = 0,018) e que a presença de latrinas dentro das casas é fator de proteção contra ascaridíase (OR = 0,38; IC 95% = 0,17-0,85; p = 0,019). A positividade para T. trichiura é maior nos grupos de 6-10 (OR = 3,31; IC 95% = 1,85-5,89; p <0,001) e de 11-15 anos (OR = 3,16; IC 95% = 1,66-6,00; p <0,001), em crianças que vivem em famílias pobres (OR = 1,78; IC 95% = 1,01-3,14; p <0,045) e praticando evacuação aberta (OR = 2,07; IC 95% = 1,07-3,99; p <0,029).
A ancilostomíase é mais frequente em crianças de 11-15 anos (OR = 6,70; IC 95% = 1,91-23,43; p = 0,002), no sexo masculino (OR = 6,35; IC 95% = 2,00-20,14; p = 0,002) e naqueles que moravam em palafitas (OR = 3,52; IC 95% = 1,22-10,12; p = 0,019). O uso de albendazol nos últimos seis meses foi fator de proteção contra a ancilostomíase (OR = 0,31; IC95% = 0,10-0,96; p = 0,042). A proporção de infecções leves, moderadas e pesadas foi, respectivamente, 55,2%, 37,8% e 7% para A. lumbricoides, 72,4%, 24,3% e 3,3% para T. trichiura e 93,8%, 3,1% e 3,1% para ancilostomídeos. Nas infecções por T. trichiura e ancilostomídeos maiores cargas parasitárias foram associadas à prática de defecação a céu aberto e morar em casas de palafitas.

Conclusões:

Os dados apontam para a necessidade de melhoria da infraestrutura de saneamento em localidades amazônicas estudadas com características sociodemográficas e ambientais semelhantes. (AU)

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