Risco de câncer de pulmão com a história de trabalho e os hábitos de vida: caso-controle

Publication year: 2021
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal do Paraná to obtain the academic title of Doutor. Leader: Miranda, Fernanda Moura D'Almeida

Resumo:

Estudo caso-controle, de base hospitalar, realizado em um hospital oncológico no estado do Paraná, com objetivo de avaliar o risco de câncer de pulmão associado à exposição ocupacional a substâncias cancerígenas, cuja hipótese foi estudar se o risco de câncer de pulmão é maior entre indivíduos expostos a essas substâncias quando comparado com indivíduos não expostos. Os dados foram obtidos por meio de entrevista e busca em prontuários físico e eletrônicos, entre janeiro e outubro de 2019. Participaram 99 casos e 227 controles. As variáveis utilizadas para avaliar o risco ocupacional foram ramo de atividade econômica e ocupação, padronizadas por códigos de classificações internacionais. Os códigos foram descritos em ocupações referidas pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer como, reconhecidas ou suspeitas, por acarretarem risco carcinogênico pulmonar, e analisados conforme ferramenta padrão de análise de câncer de pulmão ocupacional. A história ocupacional foi cruzada em uma matriz de exposição ocupacional específica para seis agentes cancerígenos pulmonares, denominada DOM-JEM. Não foi possível pareamento dos controles por sexo e idade. A análise comparativa das variáveis utilizou testes Mann-Whitney e Qui-quadrado. O risco de câncer pulmonar foi estimado pelo Odds ratio e intervalo de confiança de 95%, através da regressão logística condicional. Os modelos foram ajustados por idade, escolaridade, município e tabagismo. As análises ocorreram separadamente por sexo. Tabagismo foi tratado como variável de confusão. Os resultados mostraram risco aumentado de câncer de pulmão para mulheres de serviços agrícolas (OR= 12,9; IC: 3,3-50,9) e das ocupações de: trabalhadoras agrícolas de árvores e arbustos, principalmente, coletoras de café e algodão (OR=3,9; IC: 1,0-15,7); garçonetes (OR= 5,0; IC: 1,0-23,6); e caixas (OR= 10,9; IC: 1,4-79,8). Nos homens, evidências apontaram risco aumentado na fabricação de móveis e acessórios (OR= 27,7; IC: 1,1-677,4) e nas ocupações de: trabalhadores do tratamento de madeira e fabricação de papel/celulose (OR=9,3; IC: 1,0-83,4); e pintores (OR= 14,3; IC: 1,7-116,5). Entre as ocupações reconhecidas por risco carcinogênico pulmonar, apenas a de pintor apresentou risco associado. Não se obteve resultados significativos nas ocupações suspeitas de risco carcinogênico. Entre as mulheres, a exposição concomitante ao cromo e níquel em níveis baixos apontou risco aumentado (OR= 24,8; IC: 1,1-398,7) na matriz de exposição ocupacional. A exposição aos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, asbestos e sílica apresentaram riscos aumentados sem associação. Nos homens, não houve associação na matriz. Comprovou-se que a ocupação de pintor esteve associada ao desenvolvimento do câncer nos homens. A exposição aos compostos de cromo-níquel apresentou evidência limitada entre as mulheres. O fato de o trabalho agrícola na coleta de café e algodão representar risco de câncer de pulmão entre as mulheres é pouco estudado e discutido na literatura nacional. O caráter inovador está relacionado à realização de estudos caso-controle para associação entre câncer pulmonar e exposição a agentes químicos. Demonstra-se a necessidade de instrumentalização dos serviços de saúde para que possam identificar as causas do adoecimento do trabalhador relacionado aos agentes químicos, para fins de prevenção e redução dos adoecimentos e dos custos em saúde que oneram a sociedade, o trabalhador e sua família.

Abstract:

Hospital-based case-control study conducted at a oncology hospital in the state of Paraná, with objective of assessing the risk of lung cancer associated with occupational exposure to carcinogens, whose hypothesis was to study whether the risk of lung cancer is higher among individuals exposed to these substances when compared to unexposed individuals. Data was obtained through interviews and searches in physical and electronic medical records, between January and October 2019. 99 cases and 227 controls participated. The variables used to assess occupational risk were economic activity and occupation, standardized by international classification codes. The codes were later described into occupations recognized by the International Agency for Research on Cancer (IARC): carcinogenic risk to the lung, or suspected carcinogenic risk to the lung, according to the standard tool for the analysis of occupational lung cancer in epidemiological studies. Occupational history was crossed with a specific occupational exposure matrix for six lung carcinogens, called DOM-JEM. It was not possible to match the controls by sex and age. The comparative analysis of the variables used the Mann-Whitney and Chi-square tests. The risk of lung cancer was estimated by the Odds ratio and 95% confidence interval, through conditional logistic regression. The models were adjusted for age, education, municipality, and smoking. The analysis was conducted separately by sex. Smoking was treated as a confounding variable. The results showed an increased lung cancer risk for females of agricultural services (OR= 12,9; IC: 3,3-50,9), and in the occupations of agricultural workers of trees and shrubs, mainly coffee and cotton collectors (OR=3,9; IC: 1,0-15,7); waitresses (OR= 5,0; IC: 1,0-23,6); cashiers (OR= 10,9; IC: 1,4-79,8). Among men, evidence pointed to an increased risk in the economic areas of furniture and accessories manufacturing (OR= 27,7; IC: 1,1-677,4); workers in wood treatment and paper or cellulose manufacturing (OR=9,3; IC: 1,0-83,4); and painters (OR = 14.3; CI 1.7-116.5). Among the occupations recognized by pulmonary carcinogenic risk, only that of the painter had an associated risk. No significant results were obtained in occupations suspected of presenting carcinogenic risk. Among women, concomitant exposure to chromium and nickel at low levels pointed an increased risk (OR= 24,8; IC: 1,1-398,7) in the occupational exposure matrix. Exposure to polycyclic aromatic hydrocarbons, asbestos and silica presented increased risks without association. In men, there was no association in the matrix. It becomes proven that the occupation of painter was associated with the development of cancer in men. Exposure to chromium-nickel compounds presented limited evidence among women. The fact that agricultural work in the collection of coffee and cotton represents a risk of lung cancer among women is little studied and discussed in national literature. The innovative character is related to the conduct of case-control studies for the association between lung cancer and exposure to chemical agents. It demonstrates the need to instrumental health services so that they can identify the causes of the illness of the worker related to chemical agents, for the purposes of prevention and reduction of illnesses and health costs that burden society, the worker and your family.

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