Desigualdade social, interseccionalidade e hipertensão no Brasil contemporâneo

Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro to obtain the academic title of Doutor. Leader: Faerstein, Eduardo

Esta tese apresenta dois estudos principais que veiculam uma série de apreciações críticas para análise situacional das desigualdades em saúde. Primeiro, descreve-se uma revisão sistemática de escopo sobre a produção acadêmica e os métodos de estimação relacionados a duas medidas sumárias do gradiente socioeconômico na saúde: índice relativo de desigualdade (RII) e índice angular de desigualdade (SII). Foram incluídos 417 artigos que usaram o RII e/ou o SII em pesquisas originais, publicados em 136 periódicos entre 1985 e 2016, dos quais 45% resultaram de colaboração internacional entre 1267 pesquisadores de instituições de 60 países. 51% dos artigos usaram o RII, 13% o SII e 36% ambas as medidas. A tendência de usar ambas as medidas relativa e absoluta prevaleceu na literatura mais recente, atingindo 58% dos artigos publicados em 2016. Discutem-se cinco proposições centrais para a definição dos índices de desigualdade, identificadas por meio de um indicador descritivo, elaborado nesta tese – número de citações internas metodológicas. Segundo, apresenta-se um estudo seccional com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (2013), onde o RII e o SII foram aplicados na mensuração das desigualdades na prevalência de hipertensão no Brasil, conforme estratos interseccionais de gênero, raça e escolaridade. A prevalência de hipertensão ajustada por idade foi 34% entre homens e 31% entre mulheres, mas a desigualdade de gênero foi evidente apenas entre indivíduos autodeclarados brancos ou pardos, com ensino médio completo ou superior. Diferenças raciais na prevalência de hipertensão foram observadas somente entre as mulheres, e essa desigualdade racial aumentou com o nível de escolaridade. Gradiente educacional na hipertensão foi restrito a mulheres autodeclaradas brancas (RII = 2.5; SII = 18%) ou pardas (RII = 2.3, SII = 14.5%), enquanto que a prevalência de hipertensão foi homogênea nos subgrupos de escolaridade entre as mulheres pretas e os homens de todos os estratos raciais. Esses resultados mostram uma série de detalhes contrastantes para o estabelecido padrão social da hipertensão, enfatizando a importância de examinar a reciprocidade entre múltiplas dimensões sociais na pesquisa sobre as desigualdades em saúde. O uso dos índices relativo e angular de desigualdade deve ser encorajado para o monitoramento das desigualdades em saúde em perspectiva interseccional.
This thesis presents two main studies that provide a series of critical appraisal for the situational analysis of health inequalities.

The first one describes a systematic scoping review on the academic production and the estimation methods related to two summary measures of the socioeconomic gradient in health:

relative index of inequality (RII) and slope index of inequality (SII). A total of 417 articles used the RII or the SII in original research, published in 136 journals between 1985 and 2016, in which 45% resulted of international collaboration among 1267 researchers from institutions of 60 countries. 51% of the articles used the RII, 13% the SII and 36% both measures. The trend of using both relative and absolute measures prevailed in the most recent literature, reaching 58% of articles published in 2016. I discuss five central proposals for the definition of inequality indices, which were identified by a descriptive indicator, elaborated in this thesis – the number of methodological internal citations. The second one presents a cross-sectional study with data obtained from the National Health Survey (2013), where the RII and the SII were applied for the measurement of inequalities in the prevalence of hypertension in Brazil, according to intersectional strata of gender, race, and education. The age-adjusted prevalence of hypertension was 34% among men and 31% among women, but gender inequality was evident only among white or brown people with high school education or higher. Racial differences in the prevalence of hypertension were observed only among women, and this racial inequality increased with education level. The educational gradient in hypertension was restricted to women self-identified as white (RII = 2.5; SII = 18%) or brown (RII = 2.3, SII = 14.5%), whereas the prevalence of hypertension was homogeneous across educational subgroups among black women and among men of all racial strata. These results show a number of contrasting details for the established social patterning of hypertension, and highlight the importance of examining reciprocity among multiple social dimensions in health inequalities research. The use of the relative index of inequality and the slope index of inequality should be encouraged for health inequalities monitoring in an intersectional perspective.

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