As práticas de marketing da indústria de fórmulas são bastante conhecidas, mas pouco se sabe sobre as atividades políticas corporativas (CPA) das indústrias desses produtos nas políticas e normas em âmbito global. No Codex Alimentarius, a discussão sobre o produto follow-up formula tem muitos desafios, como a faixa etária proposta para o uso, a falta de dados sobre o consumo global, a diretriz da Organização Mundial de Saúde que o classifica como desnecessário na alimentação infantil e o aumento do consumo desses produtos para crianças de 24 a 36 meses de idade. As indústrias, com seu alto poder econômico, têm influenciado as políticas públicas, as pesquisas e as práticas dos profissionais de saúde e usam as CPA para garantir um ambiente político favorável. Esta tese buscou analisar os posicionamentos e as interferências da indústria de alimentos no processo decisório referente à regulação das follow-up formula no âmbito do Codex Committee on Nutrition and Foods for Special Dietary Uses (CCNFSDU). Realizou-se uma análise exploratória, por meio do estudo de caso do produto follow-up formula. Utilizou-se da abordagem qualitativa para a análise dos documentos do CCNFSDU nos anos de 1966 a 2019, com o objetivo de produzir um relato do processo de incorporação das normas para as fórmulas. Para análise das CPA da indústria de alimentos nos anos de 2009-2019 foi utilizada a abordagem sistemática passo a passo recomendada por Mialon (2018) e uma análise quantitativa para explicitar e sistematizar os aspectos de composição e participação das delegações dos países e das organizações observadoras, o perfil dos participantes e a capilaridade da indústria de alimentos nesse processo. Dos 189 membros do Codex, 134 participaram do processo de revisão da Norma e desses, 28% participaram de todo processo. A média de participação de representantes de interesse privado nas delegações nacionais foi de 42%. Verificou-se uma baixa participação de representantes de organizações de defesa de direitos, menos de 10% das organizações observadoras eram de interesse público e mais de 59% delas eram associações de interesse das indústrias. As Big Formula participaram de todo o processo de revisão. Identificamos 171 exemplos de práticas de CPA realizadas por 11 organizações observadoras, sendo que a maioria das práticas foi de estratégias discursivas usadas para “moldar o debate sobre alimentação e saúde pública” e combinadas com estratégias instrumentais. Os temas DHA, proteínas e carboidratos foram os assuntos sobre os quais a indústria mais se posicionou, seguidos do fator de conversão de nitrogênio, do leite materno como referência para follow-up formulas, da rotulagem, da inclusão de referências às resoluções da WHA/WHO, da promoção cruzada e das alegações nutricionais e de saúde. O processo de revisão da Norma foi moroso, com disputas sobre temas que são caros para a indústria de alimentos e para a saúde pública. É notório que a indústria utiliza da discussão da saúde pública para acomodar a importância econômica do setor e é representada por organizações comerciais nos lócus de tomada de decisão.