Obesidade e sobrepeso: corpo gordo x corpo ideal. Contribuições da literatura socioantropológica acerca da medicalização do corpo gordo
Publication year: 2021
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro to obtain the academic title of Mestre. Leader: Russo, Jane Araújo
Obesidade e sobrepeso são conceitos médicos para a classificação do excesso de gordura corporal, que se dá a partir de determinados parâmetros numéricos de referência como, principalmente, o Índice de Massa Corporal (IMC). Para a medicina, os indivíduos devem manter seu peso dentro da margem estipulada, tendo em vista que o corpo gordo é considerado doença crônica e fator de risco para o desenvolvimento de comorbidades. Nesse sentido, o corpo magro é valorizado como um corpo saudável e o corpo gordo desvalorizado como doente. Ao mesmo tempo, estar gordo ou gorda é uma condição considerada evitável, o que faz com que estes indivíduos sejam responsabilizados pessoalmente por seu estado físico. Com isso, são desvalorizados também moralmente e estigmatizados, não só pela medicina, mas em todos os âmbitos sociais, sobretudo nas sociedades ocidentais contemporâneas. O corpo magro, por outro lado, do ponto de vista social, é sinal de beleza e signo de distinção, tanto de classe quanto moral. Dessa forma, a magreza fica idealizada num polo e o excesso de gordura corporal repudiado no outro, ou seja, com isso, temos corpo gordo x corpo ideal. Esta dicotomia impacta as relações sociais e políticas, assim como é também uma construção social e resultado de ações políticas. Então, a partir da visão socioantropológica, buscamos pesquisar sobre os atravessamentos sociais acerca do que a medicina chama de sobrepeso e obesidade, problematizando a questão da medicalização do corpo gordo. O nosso campo de investigação foi uma pesquisa bibliográfica de publicações recentes relacionadas à esta temática.
O presente trabalho está organizado em três capítulos:
o primeiro, dedicado aos pressupostos conceituais; o segundo, ao percurso metodológico e o terceiro, finalmente, trata da análise e discussão dos artigos resultarantes da pesquisa.Os principais temas e conceitos abordados nestes artigos são:
obesidade e sobrepeso como questões de gênero, especificamente feminino; sociedades ocidentais como lipofóbicas e obesogênicas; consumo e hiperconsumo; publicidade; indústrias ligadas à alimentação, saúde e moda; corpo magro como ideal; estigma; cultura; racionalidade nutricional como forma de medicalização da comida; corpo gordo como fator de risco em saúde e estilo de vida saudável como meio de prevenção e responsabilização individual. A nossa análise destas abordagens mostrou que a medicalização do corpo gordo tem função para além da promoção da saúde e gestão de riscos, pois envolve a possibilidade de maior aceitação e mobilidade social. Dessa forma, sustenta-se uma intensa pressão social para adequação estética. Consideramos que pode ser positivo promover a diversidade de corpos e politizar a medicalização do corpo gordo, discutindo os diversos interesses em jogo, como os lucros da indústria do emagrecimento.
Obesity and overweight are medical concepts for the classification of excess body fat, which is based on certain numerical reference parameters such as, mainly, the Body Mass Index (BMI). For medicine, individuals must maintain their weight within the stipulated range, considering that the fat body is considered a chronic disease and a risk factor for the development of comorbidities. In this sense, the thin body is valued as a healthy body and the fat body is devalued as sick. At the same time, being fat or fat is a condition considered to be preventable, which makes these individuals personally responsible for their physical condition. As a result, they are also morally devalued and stigmatized, not only by medicine, but in all social spheres, especially in contemporary Western societies. The thin body, on the other hand, from a social point of view, is a sign of beauty and a sign of distinction, both class and moral. In this way, thinness is idealized in one pole and excess body fat is repudiated in the other, that is, with that, we have a fat body x ideal body. This dichotomy impacts social and political relations, as well as being a social construction and a result of political actions. So, from the socio-anthropological point of view, we seek to research about the social crossings about what medicine calls overweight and obesity, questioning the issue of medicalization of the fat body. Our field of investigation was bibliographic research of recent publications related to this theme.