Projeto terapêutico como dispositivo para o cuidado compartilhado

Publication year: 2022

Este livro pretende discutir a questão da clínica como parte do cuidado em saúde, tomando como foco e analisador o conceito de projeto terapêutico. Há uma relação direta entre clínica, cuidado e projeto terapêutico, e esta relação tem sua origem no conceito de corpo. Ou seja, para discutir estes temas, temos que pensar inicialmente: o que é um corpo?, ou, lidarmos com a pergunta ontológica de Spinoza (2011): o que pode um corpo? A premissa, ao fazer estas perguntas, é que a ideia que se faz de clínica, que conduz a certas práticas, tem por base o conceito de corpo. Ou seja, dependendo da resposta a “o que é um corpo”, pensa-se uma prática de saúde, as ferramentas enquanto saberes para lidar com este corpo e os modos de cuidar. Foi tentando buscar a origem do conceito que encontramos em Foucault (1998), no seu consagrado livro “O Nascimento da Clínica”, as primeiras pistas para pensar o tema. O autor estava buscando compreender como e de onde nasce a clínica atual, e vai pesquisar a prática médica do século XVII. Diz o autor que até este período o corpo era considerado sagrado, e havia proibição por parte da igreja, que na época exercia um grande poder – equivalente ao do estado - quanto a mexer neste corpo após a morte. O corpo intocado era uma barreira ao avanço da pesquisa, e por isto, médicos, principalmente patologistas e cirurgiões, começam clandestinamente a abrir o corpo para entendê-lo, e a compreender seu funcionamento. O avanço da ciência impõe a realidade de que os estudos da medicina deveriam prosseguir, com autorização para o manejo e a pesquisa, usando os cadáveres para isto. Assim foi possível avançar na compreensão da anatomia e fisiologia humanas.

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